sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Apologia a Aceitação



Apologia a Aceitação

“Sim, para mim o teatro é um grande mistério,
um mistério no qual se acham maravilhosamente
unidos os dois fenômenos eternos,
o sonho da Perfeição e o sonho do Eterno. 
Somente a um teatro assim vale a pena a gente dar a vida.”
Richard Boleslavski


                Nunca comporte-se como o artista medíocre que vive, como os cães, à cata de elogios na lata de lixo de futilidades promovidas por pessoas incautas habitantes da nossa nobre arte. O Teatro que realizas deve trazer a marca da essencialidade humana, se procurares apenas apaziguar seu ego voraz com bajulações, quase sempre hipócritas, o Teatro autêntico não será seu lugar. Procure a rudeza dos campos de combate que a vida na cena vai lhe proporcionar e aceite, simplesmente, que precisa melhorar, aprender de fato, tornar suas ações teatrais reflexo de algo muito maior que você é como persona. Caso contrário, economize seus esforços, pateticamente empregados, na sua auto promoção. Pois a realidade é que, dessa forma, o seu lucro será uma carga enorme de ilusões.
           Aos poucos atuantes (atores e atrizes) que ainda buscam a sublimação, através dessa estrada redentora que poderá ser o teatro, cabe um alerta: evite a indolência antes de mais nada e, mais que isto, repudie uma suposta criticidade, defendida aguerridamente como virtude, sua revolta não é lírica e tão pouco dramática, apenas atrapalha o tempo das coisas. Essa chama, cultuada com fervor, não passa de sintoma do seu despreparo, aceite suas limitações e não se esconda sob um véu de diálogos intermináveis e banais fingindo fortaleza. Estrebuchando-se dessa maneira, expõe de forma inequívoca, essa tola necessidade de projeção, todavia, os Palcos da transparência não são locais para tais manifestações. Saiba que tens sido vítima de uma prática heroica, mas de pouco estudo e quase nenhuma disciplina e isso não é culpa de ninguém, portanto, sua humildade ou desespero é que escreverão nas páginas da sua história sua evolução ou degradação.
            Aos meus colegas de ofício, os diretores e encenadores, convido a aceitação do ato de dirigir espetáculos e, sobretudo pessoas, como atitude amorosa de um ser distribuidor de dádivas, acima de qualquer coisa, sem a necessidade de outras medidas recompensatórias, exceto o salário devido. Pela busca insana de reconhecimento quantos de nós enlouqueceram tornando-se homens e mulheres abjetos?  O trabalho de dirigir é extremamente solitário, muitas vezes nos tornamos egocêntricos, e consequentemente existe uma probabilidade considerável de nos tornarmos egoístas e ditadores, a única medida possível, como antídoto para tal situação, é o compartilhamento do conhecimento que acumulamos por exigência da profissão. Aceitemos, sem restrições: tudo que fizermos deverá ser em nome da libertação.
            Para todos os artistas das cênicas reitero, aceitar as nossas sombras é caminho obrigatório para que luz brote desse acolhimento. A sensação da perda ou da glória em uma vida na arte só existem para nos lembrar:  a sabedoria para ser alcançada exige, paradoxalmente, uma atitude de espera e esperar, é a própria aceitação. No entanto caminhemos...

Para mim mesmo
Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy estúdio das Artes

Outubro 2014










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