sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Troféu " Os Melhores do Teatro Piauiense" - Ano 2013

    
Foto: Silmara Silva




O teatro piauiense tem avançado significativamente nos últimos anos, seja na parte técnica, artística e estética, demonstrando um grande avanço na profissionalização da área.

Grandes nomes do nosso teatro marcaram época deixando um legado que merece ser não só conhecidos mais reverenciados, para conhecimento das novas gerações. Da mesma forma, nomes da nova geração se destacam angariando aplausos e ganhando prêmios para a honra do nosso teatro.

Ao propor a realização do Troféu – Os Melhores do Ano do Teatro Piauiense, em parceria com entidades afins, A & C Assessoria e Promoções Culturais, tem como objetivo principal incentivar e elevar o nível artístico e técnico dos espetáculos produzidos no Estado do Piauí de forma salutar.

Atores, atrizes, diretores, dramaturgos e técnicos nas diversas áreas do teatro, entidades culturais, produtores e incentivadores, enfim, todos aqueles que fazem, trabalham e incentivam o teatro serão agraciados anualmente com o Troféu – Os Melhores do Ano do Teatro Piauiense.

A cada ano o nome do troféu homenageará uma personalidade do teatro do Estado, que tenha relevantes serviços prestados em sua área de atuação, emprestando seu nome aos melhores do ano.

Desta forma, a A & C Assessoria e Promoções Culturais e a Grande Otelo Companhia de Teatro, associar-se-ão a outras empresas da área, entidades culturais, empresas públicas e empresas privadas, para melhor oferecer um evento digno do talento de todos os ganhadores do troféu, numa grande cerimônia pública.

Ao propormos o Troféu – Os Melhores do Ano do Teatro Piauiense, esperamos, também, propiciar e elevar a autoestima de nossos artistas, buscando colocá-los no patamar que merecem.

Por Ací Campelo.

O Coletivo Piauhy Estúdio das Artes agradece pelas indicações para o Troféu "Melhores do Teatro Piauiense 2013" - A premiação aconteceu dia 21 de Novembro, às 19:30h, na Galeria do Clube dos Diários.


INDICAÇÕES:
Melhor Espetáculo: "FOGO"
Atriz Revelação: Erica Smith
Melhor Ator: David Santos
Melhor Cenógrafo: Vitor Sampaio
Melhor Diretor: Adriano Abreu
Melhor Autor: Adriano Abreu
Melhor Sonoplasta: Arnaldo Pacovan
Melhor Iluminação: Pablo Gomes

Saudações Culturais!!!

terça-feira, 12 de novembro de 2013


Impressões do Professor, Dramaturgo e Escritor Ací Campelo sobre o espetáculo "FOGO"

Um grito solto no ar!

Fogo, espetáculo do Piauhy Estúdio das Artes, com texto de Adriano Abreu, baseado no conto homônimo de Vitor Gonçalves Neto, teve sua estreia no dia 11 de outubro na Galeria de Artes, do Club dos Diários com uma boa plateia.

Como forma de contextualização, o espetáculo trata de construir cenas sobre os incêndios ocorridos em Teresina, na primeira metade da década de 1940, quando era interventor federal o ex-governador do Piauí, Leônidas de Castro Melo. Este episódio foi um dos momentos mais obscuros da história do Estado do Piauí, quando dezenas de casas de palhas foram queimadas na capital propositalmente com intenções diversas, que bem poderiam ser para limpeza da pobreza no centro urbano da capital ou mesmo da especulação imobiliária. Agora o que mais assustou no fato foi a extrema violência da policia ao caçar os culpados pelos incêndios. Uma violência que foi às raias da loucura e do bom senso, culpando e matando inocentes.

O espetáculo do Piauhy Estúdio das Artes surpreende pela ousadia. Raros tem sido os momentos em que o teatro do Piauí tem falado de sua própria história, raríssimos, por sinal. E quando se atrevem em fazê-lo, alguns deles, ainda veem com ares de desculpas. Isso, com absoluta certeza, tem sido um dos motivos do fracasso do nosso teatro, que fica montando peças sem interesse para ninguém. Aqui não estamos colocando falar sempre sobre nossos problemas, principalmente, sobre nosso folclore tão cantado com olhar de benevolência, não só no teatro mais também na música, na dança e na literatura. O teatro tem o dever de revelar, de esmurrar o estomago, de ir fundo naquilo que está mais escondido na alma humana, só assim cumpri com o seu dever, tendo em vista que a realidade que está aí é muito mais cruel.

Fogo, do Piauhy Estúdio das Artes, talvez não vá tão fundo. Mas passa uma sensação para o espectador de que o Grupo cumpriu com aquilo que se comprometeu, e fez um espetáculo instigante, surpreendente, com belas imagens de atuação. Um espetáculo raro como quase nunca tem acontecido no nosso teatro, daqueles em que você sai com uma sensação de que nem tudo está perdido. Com um elenco compacto, objetos de cena distribuídos em arena e usados pelos atores de forma firme e sob uma luz criativa, as cenas das casas queimadas se desenvolvem alinhavadas em um pano de fundo formado por um casal, em que se destaca a atuação forte e vibrante da atriz Érica Smith.

Quando colocamos que o Grupo não foi tão fundo talvez seja por que o material em que baseou o texto tenha sido de um autor único. Isso por que já existe um vasto material sobre aqueles incêndios em Teresina, inclusive, com teses de doutorado e outros escritos. Só para exemplificar, temos o livro do professor Alcides nascimento “Fogo – Modernização e Violência Policial em Teresina (1937-1945)” e “A Cidade em Chamas”, do dramaturgo e ator Afonso Lima, material em que o Grupo poderia ter ido mais fundo em suas pesquisas.

Fogo, que tem direção de Adriano Abreu, com os atores Carlos Aguiar, David Santos, Vitor Sampaio e Érica Smith, pontuado com sons de instrumentos de percussão ao vivo, um achado, com certeza vai se ajustando durante sua temporada. Falo do ritmo, da modulação da voz dos atores, às vezes estridentes outras inaudíveis, e da emoção da cena. O espetáculo já é um marco na trajetória do nosso teatro, por trazer para a cena um episodio ainda um tanto nebuloso e desconhecido da nossa história.

Um tempo em que na cidade de Teresina vivia-se a mordaça, o medo e a inquisição em meio às chamas que esturricavam as casas de palhas, e nem sequer se podia mencionar o nome fogo. Tudo era silencio na cidade. Autoridades caladas, jornais empastelados e o povo com medo: casebres de palhas feitos a sangue e suor, sendo consumidos, fosse em pleno sol a pique ou em noites de luar, sem nunca ter-se descoberto os autores ou autor de tamanhas barbáries.

Vida longa a Fogo, do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes, o teatro piauiense precisa.


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Espetáculo - "Fogo" - Livre Adaptação do Conto de Vitor Gonçalves Neto

O Piauhy Estúdio das Artes agradece a toda organização da 2ª Aldeia SESC Guajajara de Artes em Caxias - MA, pela participação no evento. Agradecimentos: Sandra Nunes e equipe do Sesc Caxias. Saudações Culturais!!!

Fotos: Silmara Silva








segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Um Espetáculo de Cura

Foto: Ana Cândida

Esta Oração abre um espetáculo de cura. Um espetáculo de cura pressupõe a melhoria da vida social, cultural, emocional e espiritual de quem o faz e vê, bem como, a melhoria da sociedade." FOGO" objetiva tal realidade, de forma microscópica, agimos, conscientemente na procura do salutar no teatro. Eis a insígnia do Piauhy Estúdio das Artes.


Ó Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo Salvador do Mundo, Rainha do Céu e da Terra, advogada dos pecadores, auxiliadora dos cristãos, protetora dos pobres, consoladora dos tristes, amparo dos órfãos e viúvas, alívio das almas penantes, socorro dos aflitos, desterradora das indigências, das calamidades, dos inimigos corporais e espirituais, da morte cruel dos tormentos eternos, de todo bicho e animal peçonhentos, dos maus pensamentos, dos sonhos pavorosos, das cenas terríveis e visões espantosas, do rigor do dia do juízo, das pragas, dos incêndios, desastres, bruxarias e maldições, dos malfeitores, ladrões, assaltantes e assassinos.

Minha amada mãe, eu prostrado agora aos vossos pés, com piedosíssimas lágrimas, cheio de arrependimento das minhas pesadas culpas, por vosso intermédio imploro perdão a Deus infinitamente bom. Rogai ao vosso Divino Filho Jesus, por nossas famílias, para que ele desterre de nossas vidas todos estes males, nos dê perdão de nossos pecados e nos enriqueça com sua divina graça e misericórdia.

Cobri-nos com o vosso manto maternal, ó divina estrela dos montes. Desterrai de nós todos os males e maldições. Afugentai de nós a peste e os desassossegos.

Possamos, por vosso intermédio, obter de Deus a cura de todas as doenças, encontrar as portas do Céu abertas e convosco ser felizes por toda a eternidade. Amém! (Oração à Nossa Senhora do Desterro) 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

1º Festival do Espetáculo: "FOGO" - 8º Aldeia Sesc Guajajara de Artes - Caxias/MA


                                                          Foto: Ana Cândida

Espetáculo "FOGO", se apresenta na 8º Aldeia Sesc Guajajara de Artes 
Local: Centro de Cultura José Sarney
Dia: 07 de Novembro
Horário: 19h

Aldeia Sesc Guajajara de Artes é um projeto de continuidade, integrante da Rede Sesc de Intercâmbio e Difusão das Artes Cênicas no país. No formato de “Aldeia Cultural” – concentra uma programação diversificada em linguagens artísticas e manifestações da cultura local para públicos variados. Dentre seus objetivos destaca-se a valorização da produção artística maranhense como forma de contribuir para o desenvolvimento e a transformação da sociedade. Nesse sentido, oferece além das apresentações de espetáculos e performances de artes cênicas, shows, exibições de filmes, contações de histórias, exposições, intervenções e ações formativas que ampliam o repertório dos profissionais, produtores e estudantes e comunidade em geral. Ao realizar a sua 8ª edição, o evento apresenta o tema “Multilinguagens e híbridas expressões na contemporaneidade”. O conceito pretende abordar o diálogo entre as linguagens artísticas no cenário contemporâneo, os processos de hibridização na arte, as linguagens e meios que se misturam para compor um produto artístico fragmentado, em constante transformação. A proposta do tema norteará a seleção de produções artísticas que integrarão a programação do projeto.   Destacamos ainda, que o Sesc tem sido um grande promotor e mediador nessas relações de consumo cultural, atuando fortemente no fomento à formação de platéia, incentivo a produção artística cultural e nas ações formativas através de seus vários projetos ao longo dos últimos 10 anos. A Aldeia Sesc Guajajara de Artes, com seu caráter único e multifacetado, se firma e se consagra como o maior evento de arte do estado, acolhendo artistas, grupos e produções de referência no âmbito local e nacional, oportunizando vivências em arte e cultura para todos. A programação será realizada no período de 25 de outubro a 1ª de novembro em São Luís, e de 03 a 09 de novembro em Itapecuru e Caxias, agregando em sua programação os projetos nacionais e regionais: Palco Giratório, Dramaturgia - Leituras em Cena, CineSesc, Sesc Circulando Cultura, Por Trás da Cena, Mãos à Obra, Sesc Instrumental, entre outros. Ressaltando ainda, a parceria com outras atividades como o Trabalho com grupos, Mesa Brasil e Recreação.

Contatos: 3216 3860 / 3853

cultura.sescdeodoro@gmail.com

aldeiasescguajajaradeartes@gmail.com

Isoneth Almeida,Carolina Aragão,

Paula Barros, Adriane Soares, Márcia Andreia, Gizelly Alemida, Sandra Nunes

http://aldeiasescguajajaradeartes.blogspot.com.br/p/programacao.html




quarta-feira, 16 de outubro de 2013




Impressões do Ator, Radialista, Estudante de Jornalismo Maneco Nascimento sobre o Espetáculo "FOGO"

Arte e reflexão
Chuva!
por maneco nascimento
                                                                                                                                                          
A Piauhy Estúdio das Artes abriu temporada de estreia a sua + nova investida aos palcos piauienses. A apresentação ao público da cidade deu-se nos dias 11 e 12 de outubro de 2013, às 20h, na Galeria do Clube dos Diários. A montagem de “Fogo” é baseada em obra homônima de Vítor Gonçalves Neto. A peça atrai atenção, logo de início, pelo calor que a dramaturgia apresenta já em seus elementos de cenografia e adereços e musicalidade afins.

Na fuga do palco italiano, a Cia. optou pelo mapa de arena. A cenografia aproxima o público da densidade do que será apresentado. Não há vazios de utilidades nos elementos composicionais, para ilustração a postes de luz a gás, lampiões, candeeiros (lamparinas), velas candentes em tulipas adaptadas, pela Direção de Arte (Vítor Sampaio), e um plano concentrado pelas ribaltas, de luzes ardentes, que definem um retângulo (piscina de fogo) em que se desenrola o enredo dramático, elaborado por Adriano Abreu.

Há três planos altos que quebram o baixo, no retângulo de fogo. O central, em que se dão as cenas de destaque das personagens para tortura, pira humana infligida e arte pregoeira de atiçar fogo em espetáculos à expiação pública. Nos dois extremos do retângulo, os outros planos altos auxiliares. Um que funciona como casa da personagem Lucinda, a mártir do inferno da cidade baixa em chamas e o outro como ponto de observação, ou de vida (des)protegida das personagens outras que revivem as mortes no pirancídio da década de fogo.

O espetáculo já começa aquecido por uma batida de embolada, primeira entrada da cultura popular. Os narradores da cena repercutem a variação sobre o mesmo tema e adiantam o sonho da anti-heroína que sonha em conhecer o mar. Os elementos populares vão-se assomando, para ritos religiosos, mitos e lendas ribeirinhos e revista histórica em memórias da fé profanada e recuperada, coerção e ritos de passagem à justiça cega do poder que se impõe.

Há o profeta que prega no deserto da falta de humanidade, que ali será tema de dramaticidade das vidas comezinhas, com suas naturezas simples e trágicas, desencadeadas por mistérios humanos, sob a pecha de “cura” de falhas sociais e culpas inconscientes coletivas.

As intertextualidades são imprescindíveis e endossam a crença popular e cultura do mundo circular. Lucinha, a protagonista, uma espécie de Santa Joana Darc, ao revés de ofender ao deus dos homens, ou uma Luzia Homem que sonha com o mar. Seu mar de fogo, talvez a transcenda para lugar + aprazível, longe de todas as perdas sofridas por força estranha da vilania do fogo.

A mulher popular, a puta do bairro dos Cajueiros e vizinha de Lucinda, também transversaliza com entidade afro-brasileira e se impõe para uma Pomba Gira. Entre o bem e o mal, uma mulher livre e presa ao inconsciente da paga de ser como é, ou não ser e dever o tributo consequente.

Quatro atores (re)buscam as personagens construtoras do Fogo. Vítor Sampaio, o Profeta do fim do mundo, ou beato das plagas sujeitas à redenção dos céus; a prostituta, amiga de Lucinha; o marido de Lucinda, torturado pela milícia do fogo, e o comovente representante do amor de perdição da personagem envolta nas chamas do destino. Enquanto impõe-se como o fogo, literalmente, numa variação feminino/masculino do anjo decaído do apocalipse, é de licença lúdica irrepreensível.

Carlos Aguiar e David Santos são pregoeiros da vida e da morte na tragédia anunciada, numa concentração composicional reta. Como soldados da morte, ou populares da vida consequente, nada parece destoar deles ao conjunto. Algozes e vítimas da própria história, em memória revisitada, as personagens que defendem estão definidas para o crime premeditado pela ciência da dramaturgia apresentada.

Érica Smith é Lucinha, a mãe, mulher, lavadeira da beira do cais, sonhadora e dona da coragem de viver e morrer pela defesa da vida, que não parece compreender por que assim se dá. A catarse purga-a das culpas desconhecidas, impostas pela justiça dos deuses de barro. Sua Lucinha é metaforizada como vítima da caça às bruxas pela santa inquisição, invenção humana para discurso divino. Érica se garante e Lucinha se estabelece muito bem.

O elenco enxuto e muito presente, a seu turno e particularidade de cada intérprete, enxuga o pranto enquanto queima, à reinvenção da crônica social reproduzida por Vítor G. Neto e na licença poética que caracteriza teatro de ótima qualidade. Os figurinos, assim como todos os emblemas e signos assinalados na Direção de Arte, nunca ofendem a proposta. Tecidos de algodão cru ganham forma que vestem e despem as personagens, numa estética rica de detalhes e praticidade de contar o drama.

A sonoplastia e enredos musicais direcionados por Arnaldo Pacovan cosem as pontas já, detidamente, encaminhadas a alinhavo sonoro em compleição das falas sociais de drama prospectado. A iluminação de Pablo Erickson afina conceito e plasticidade que inflamam resultado técnico operacional e desenho inteligente ao estético solicitado. Completam a reserva técnica, os trabalhos de of (ao vivo) de Silmara Silva que apresenta uma Ladainha da Mãe às agruras e sorte, e a maquiagem que também leva sua assinatura.

Dos riscos simbólicos aplicados, de dramaturgia ateada que Adriano Abreu assinala em adaptação livre, estão a negação dos santos do inventário popular, Santa Luzia que dá luz e calor aos olhos; São José, padroeiro do sertão e milagreiro às chuvas que amainam o fogo na terra seca; São Jorge (de Ogun) que defende o povo dos dragões da maldade e São Francisco (das Chagas, do Canindé) de Assis, o grande pai do sertão. As gentes negam seus santos para requerer qualquer solução que quebre o paradigma da injustiça que os céus não resolvem.

"Fogo", a peça, se espelha em conto que retrata período obscuro da higienização de Teresina, em nome do bellepoquismo que instaurava novidade no país e ressoava em mudanças e progresso que se impunham para afastar o que enfeava o centro da cidade. Nos anos quarenta do século XX, a cidade testemunhou dias infamantes e inflamantes das vidas simples de bairros da capital.

Quando as suspeitas recaíram sobre (des)mandos do próprio governo da época, a polícia resolveu endurecer para coibir curiosidades e interesse popular. Era proibido se usar a palavra fogo, especialmente em dias ardentes. Como o homem se adapta ao meio, a população adotou a metáfora “Chuva!” para designar alarme e proteção contra o fogo ateado às casas de palha. A população alertava os seus e desdobrava a violência oficializada da polícia.

“Fogo”, numa adaptação livre de conto homônimo de Vítor Gonçalves Neto, reverbera a obra, o autor, a memória social e a história local, e o adaptador e a dramaturgia consignada por Adriano Abreu. É obra ardente. Renasce das cinzas dos anos quarenta e aplica crítica social, enquanto licencia arte e cultura de palco ao histórico da dramaturgia nacional. Chuva!


Impressões do Ator e Escritor Eduardo Prazeres sobre o espetáculo: "FOGO"

FOGO
(poético e impactante)

Ainda vou levar algum tempo para digerir as imagens contundentes e de múltiplas significações deste belo espetáculo. Tomando como plano de fundo um momento histórico que marcou profundamente a alma de nosso povo (os incêndios em Teresina, na década de 1940, que revelaram várias facetas até então ocultas da nossa história urbana), a peça transcende as questões locais e expande seus questionamentos e reflexões para um contexto muito maior, de abrangência humana universal. A tragédia do homem desvalido que clama pela pobre esposa, vítima da miséria e dos incêndios: "Alguém aí pode fazer alguma coisa por ela? Alguém?!..." é a tragédia do desamparo humano diante da incerteza do amanhã e da morte certa e inexorável, não importando a classe socioeconômica a que se pertença. A analogia entre o fogo sobre os casebres, de efeito local, e o fogo apocalíptico, de efeito universal, é outro elemento que confere universalidade ao espetáculo. A presença da musicalidade negra enquanto se dizem as rezas e ladainhas do culto católico fala do sincretismo religioso tão presente em nossa terra. O diálogo entre religiosidade e luxúria, prostituição, expõe as necessidades e carências interiores e fisiológicas do homem que, embora temente a Deus, quer uma compensação imediata por toda a sua dor e precariedade de vida. Enfim, são muitas as impressões colhidas neste competente e bem elaborado trabalho, e pouco tempo para organizar essas impressões e expressá-las aqui. Deixo os meus sinceros parabéns ao diretor, aos atores, e a toda a equipe envolvida nesta produção. Um destaque também merecido é para o projeto de luz, que ficou magnífico. Parabéns! E que este espetáculo tenha a sua merecida repercussão e possa levar aos palcos do Brasil o FOGO da nossa arte!!!




Impressões do Ator, Diretor, Poeta e Produtor Cultural Vitorino Rodrigues sobre o espetáculo: "FOGO"

Insânia

As casas lampejam a fúria 
Ardem todas as horas da agonia
Espalham-se gemidos sussurros e gritos
E paira estátua nuvem densa sobre a cidade

A dança rodopia o ritual da chuva
E a língua ardente degusta a inocência
Crepitam vidas mártires do abandono
Carbonizam vivos sonhos estancados 

A prece apressa a dor e fulmina o âmago
Lâmina febril desvairada in seco
Acesa fagulha que consome o credo
Berra a insânia de não ter caminho


Espetáculo: "FOGO" - Conto de Vitor Gonçalves Neto

 Foto: Ana Candida

“Fogo”, espetáculo teatral do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes, retrata os incêndios criminosos nas habitações de palha da cidade de Teresina na década de 40, sob a ótica da personagem Lucinha (Érica Smith) e dos narradores – personagens (Carlos Aguiar, David Santos e Vitor Sampaio) que relatam a luta pela sobrevivência em uma cidade devastada pelo fogo e pela opressão. O espetáculo é uma livre adaptação do conto homônimo de Vitor Gonçalves Neto. Construção dramatúrgica do diretor Adriano Abreu, que procurou universalizar á temática através de pesquisas e investigações cênicas que consumiram três anos para concretização do trabalho. O resultado é um produto cultural de qualidade estética, conceitual, social e emocional que resgata de forma contundente essa fase da história de Teresina e a importância mítica do fogo.

Classificação etária: 14 anos
Duração: 60 minutos

Ficha técnica:

Livre Adaptação, Concepção e Direção Geral – Adriano Abreu.
Direção de Arte (cenário, figurino e programação visual) – Vitor Sampaio.
Ambientação Sonora – Arnaldo Pacovan.
Iluminação – Pablo Gomes.
Off e Maquiagem: Silmara Silva
Fotos: Ana Cândida.
Vídeo: Francisvaldo Sousa
Intérpretes: Carlos Aguiar, David Santos, Érica Smith, Vitor Sampaio.
Música Tema: Tá chuvendo Sol (Severo e Cultura Casca Verde).
Projeto Contemplado pela Lei de Incentivo a Cultura Arimatéia Tito Filho.
Produção e Realização: Piauhy Estúdio das Artes.




domingo, 25 de agosto de 2013





             Teatro Não É Questão de Gosto!
           (Esterilidades, imprecisões e superficialidades)


              Assisti o espetáculo “Mãe In Loco” do grupo amazonense “Cacos de Teatro”,  segundo o coletivo um trabalho teatral livremente inspirado na obra “Mãe Coragem e Seus Filhos” escrita em 1939 pelo teatrólogo, dramaturgo e diretor alemão  Berthold Friedrich Brecht.  Para inicio de conversa, considero o produto cultural em questão, um trabalho ligado a uma vertente das artes cênicas denominada “Performance Art”. A diversidade das manifestações cênicas na contemporaneidade justifica a colocação de “Mãe In Loco” pelo importante projeto Sesc Amazônia das Artes na categoria teatro. As coisas são o que são independentemente dos rótulos que possuem. Porém, esse não é o único  foco deste artigo.
                O problema foram as discussões travadas entre membros do “Cacos de Teatro” e espectadores, no que deveria ser, apenas um bate papo, ao final da apresentação. Diálogos eivados por uma atmosfera estéril, recheada de superficialidades, equívocos e imprecisões de parte a parte. Vamos aos fatos e possíveis elucidações:
              O diretor do trabalho e um ator participante esclareceram que o apresentado ilustra a pesquisa do grupo, onde os membros revezam-se na direção de solos dos outros membros, onde o foco das investigações do coletivo seria o comportamento do atuante em situações de risco, bem como, as relações cênicas estabelecidas com o espaço, no caso uma piscina de lona plástica azul com quatrocentos quilos de gelo triturado (representando a inóspita Antártida). O mote para as ações seria o texto mencionado de Brecht. Até então tudo aceitável.
               Abrindo a fase de questionamentos e observações o primeiro interlocutor perguntou sobre a intertextualidade do espetáculo, com a peça do organizador do Berliner Ensemble. Então, começaram as imprecisões. O diretor relatou brevemente o roteiro do texto “Mãe Coragem e Seus Filhos” e afirmou que  o  segundo intérprete em cena era o responsável pelo efeito de “distanciamento” e que o épico estava nas ações da atuante. Declarou que o espetáculo já tinha realizado incursões pelo exterior, modificando-se ou não, ao sabor das impressões e sensações do público, a quem o grupo sempre ouvia de bom grado.
                Definitivamente, com todo respeito aos colegas do “Cacos”, o segundo atuante em nenhum momento sinalizou o “distanciamento” citado. “Distanciamento” ou “estranhamento” (verfremdusgseffect) como Brecht definiu é: “... uma técnica que permite retratar acontecimentos humanos e sociais, de maneira a serem considerados insólitos, necessitando de explicação, e não tidos como gratuitos ou meramente naturais. A finalidade deste efeito é fornecer ao espectador, situado de um ponto de vista social, a possibilidade de uma crítica construtiva.”(ver Teatro Dialético) . No contexto do espetáculo não foi possível identificar tal efeito. Nas obras cênicas com as características da apresentada não caberiam os termos “distanciamento” ou “teatro épico”. A intertextualidade residiu apenas no leitmotiv do espetáculo.
                  A partir desse momento do “bate papo”, tomando emprestado uma expressão  Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), o FEBEAPÁ (Festival de Besteira que Assola o País) instalou-se no belíssimo Teatro do Boi. Um espectador,  atabalhoadamente,  vociferou  uma série de críticas ao produto cultural apresentado e resumiu seu descontentamento com um sonoro: “- Não Gostei!” O coletivo que acabara de afirmar  que escutava a platéia com real interesse e serenidade, revelou-se descontente com o comentário, reagindo com indisfarçável indignação e o típico sorrisinho defensivo e ranhento, lido nas entrelinhas, como o salmo dos artistas incompreendidos: “-Hó meu Deus perdoai! Ele não sabe o que diz...”  
                 Um cidadão partiu para defesa do grupo, relatou que tinha feito  um exercício de Viola Spolim, trabalhando a relação com o espaço cênico, concluía: “ Teatro  não é mesmo para as pessoas gostarem; é para provocar.”  O coletivo adorou a defesa extemporânea do rapaz. Outro espectador procurou contemporizar os ânimos, parabenizou o “Cacos de Teatro”, disse compreender os prós e contras. Considerava o trabalho uma “coisa híbrida”, todavia, entendia as razões do sujeito que não gostou , por que o trabalho não “possuía emoção”. Declarou sua percepção de “alguma coisa de teatro físico”, elogiou a atuação da atriz que “criou uma mãe do seu íntimo, ora jovem, ora velha”. O  descontente continuou irascível: “- Não gostei, não me convenceu”, e outros comentários dispensáveis de relato.  O interlocutor que buscou harmonizar partes partiu com microfone em punho para o proscênio na tentativa vã de explicar o inexplicável para o reclamante. Finalmente, tudo acabou como começou,  uma tremenda gelada.
                   Poderíamos acabar por aqui, todavia, tentaremos alavancar algumas questões relevantes. Nas artes como na vida aprendemos sempre, nas luzes, mas também, nas sombras:
1.       As manifestações para teatrais (happenings, performances, work-in-progress e demais estrangeirismos das cênicas) despontaram, principalmente, na  Europa e nos EUA pós segunda guerra.  Atualmente essas manifestações encontram-se em um certo declínio nesses lugares, dando lugar a outras visões. Porém, florescem  nos países ditos em desenvolvimento, são “vendidas” aos incautos como “ultra-pós-contemporâneas”, o antigo é vendido como  novidade à multidões de artistas prontos a embarcar em qualquer nau de bobagens a busca dos cantos de sereias das falsas novidades desde que possuam o brasão do pomposo nome CONTEMPORÂNEO. Para tais representações cênicas o que valeria, segundo seus defensores, seria um estado de fruição, ou seja, não faz-se necessário a compreensão literal, objetiva, crítica, ou mesmo o encantamento estético pelo espectador, mas sim o deixar-se atravessar pela subjetividade do proposto pelos artistas. A premissa seria o sentir (como se fosse possível não sentir), esse é o caso dessas “modalidades” cênicas, esse é o caso de “Mãe In Loco”. Aparentemente nem o coletivo “Cacos de Teatro” nem o público presente encararam desta forma.
2.       Improvável estabelecer qualquer relação possível entre as perspectivas da sistematizadora dos Jogos Teatrais (Viola Spolin) que são exercícios de improvisação para atores (geralmente usados para  iniciantes) e o trabalho apresentado. Mais difícil ainda é compreender o paralelo traçado pelo interlocutor e a afirmação: “ Teatro  não é mesmo para as pessoas gostarem; é para provocar.” Não pretendo sair da eterna posição de aprendiz, onde estou por opção, mas permita lhe dizer, com franqueza afetuosa, meu entusiasta artista, sua colocação é ingênua, anacrônica e necessita de reestruturação. Sem pretensão de impor-lhe nenhum paradigma , gostaria de lhe propor a seguinte reflexão (caso leia algum dia este modesto texto). Concordo, não devemos “paparicar” o espectador com belas mentiras, nosso compromisso é com a verdade. Mas ninguém (de posse de suas faculdades mentais) sai de casa e dirige-se a uma sala de espetáculos para ser “provocado”, ou pior, para detestar uma apresentação.  Manfred Wekwerth (também diretor do Berliner Ensemble) afirma, e eu sou obrigado a concordar, “... a verdade no palco só será verdade se aparecer aliada a sua irmã a beleza.”  Creia meu caro, reside no público a esperança no alumbramento, mesmo no horror. O espectador é parte da cerimônia do espetáculo, tem direito a um produto cultural acabado, e jamais, deve ser ignorado, vilipendiado com arrogância e estupidez pelo artista cultuador de um mundo doente. Relembrando Brecht (Pequeno Organom Para o Teatro): “É preciso lembrar mais uma vez que a tarefa do ator é divertir os filhos da era científica, os espectadores, com sentimento e alegria. Precisamos repetir isso frequentemente para nós mesmos[...] Nada do que fazemos representa um esforço a alegria e para justificarmos os nossos atos não invocamos o prazer que tivemos, mas sim, o suor que nos custou.”  
3.       As colocações do cidadão que afirmou que  “Mãe In Loco” era uma “coisa híbrida(difícil imaginar tal coisa)” , estão maculadas pela imprecisão, equívoco e contradição.  Com a designação “híbrida” o espectador, talvez, quis frisar o caráter performático da proposta, junção de elementos inusitados na execução do trabalho (piscina de gelo, barulho de xícaras, atmosfera e interpretações surreais), ainda assim a infeliz assertiva, não explicaria a obra. As cênicas (teatro, dança, circo, performance, etc) não são manifestações “puras” e já utilizam linguagens de outras manifestações correntemente.  Dizer que tal manifestação cênica é “híbrida” tornar-se redundante e  carece de aprofundamento.
A “experiência” sensorial da atuante com o gelo não possui referência alguma com o “teatro físico”,  apesar desse conceito ter diferentes interpretações,  contudo: “A definição mais comum, onde todos concordam, é de um trabalho que coloca a fisicalidade do artista cênico em primeiro plano no resultado estético final de uma performance. (Victor de Seixas, Revista on line Mimus de Mímica e Teatro Físico).” O que não foi notado em “Mãe In Loco”. Por fim, a afirmação do espectador  que o espetáculo não trabalhava a emoção e sua posterior afirmação de que a atuante   “criou uma mãe do seu íntimo, ora jovem, ora velha”  é, no mínimo, contraditória.
                    Necessário e urgente repensar o “Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense”  diferentemente das bases grosseiras do “gostei ou não gostei”, satisfiz ou não minha subjetividade e crenças estéticas: “Todos os juízos de gostos são singulares”. (Kant), tão pouco sobre os alicerces da imprecisão, falta de fundamentação e “achismos”, comuns  no percurso da curta formação da nossa arte. Igualmente nociva uma visão academicista, vazia e ideofrênica não ainda em voga no Piauí, mas comum em outros centros. Fundamental lembrar  a advertência do pensador George Lukács: “Uma arte que seja por definição sem eco incompreensível para os outros – uma arte  que tenha caráter de puro monólogo – só seria possível num asilo de loucos[...] A necessidade de repercussão, tanto do ponto de vista da forma, quanto do conteúdo, é a característica inseparável, o traço essencial de toda obra de arte autêntica em todos os tempos”. Por citar o essencial, apesar dos “gostares”, essencialidade pura, para nós gente de teatro, e o que não existiu naquele 18 de agosto no Teatro do Boi, foi um pouco de sabedoria e um pouco de bom senso.

Adriano Abreu
Diretor do Piauhy Estúdio das Artes




sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Por Que Faço Teatro? A Importância do Teatro Que Faço?




Por Que Faço Teatro? A Importância do Teatro Que Faço?

“Confia ao Senhor as tuas obras,
e os teus desígnios estão estabelecidos”
Provérbios 16; 3

                Fui desafiado por meu filho a escrever sobre essas duas questões, não duelo mais, paradoxalmente jamais me furto aos desafios.
               O teatro que faço é revolucionário, eu preciso dessa trincheira para não perecer como revolucionário que sou. A cidade necessita de guerreiros, a apatia tomou conta das calçadas, os gabinetes estão infestados de baratas e cupins. Sou poeta, a cena foi à forma escolhida para materializar a poesia que habita em mim. Essa arte, na sacada da minha vida, como um pássaro, fez seu ninho, protegeu-me dos temporais que arrastaram muitos dos meus irmãos para os córregos de uma vida sem sentido.
               O teatro que faço é cheio de força, inteligência, sensualidade, uma onda assoprada por vendavais de imaginação, disciplina e amor. Invade a nossa aldeia para quem se habilitar a enxergar alguns homens e mulheres abarrotados de vida, impregnados de uma verdade pulsante, corações loucos de paixão, humildade e servidão a esse povo que olha o futuro com medo e desconfiança de algo inevitável, terrível, se aproximando não se sabe donde. Os atores e atrizes gritam: “O Piauhy venceu a morte com o gesto e as palavras que cantamos, curem-se todos, sintam o cheiro da esperança nos nossos suores, vejam o fogo santo nos nossos olhos, toquem nossos espíritos sem temores, as chagas da cidade fecharão se os cidadãos resistirem à hipocrisia dos senhores mortos.”
                O teatro que faço nunca saiu de perto dos rios que matam a sede da nossa tribo, não estava pronto, hoje as forças sublimes do universo pretendem que eu e meus companheiros saiámos da chapada para dançar no mundo, feito andarilhos, estamos prontos.
                A importância do teatro que faço? Nenhuma e toda a essência do mundo, hoje sei, meu amado filho e irmão, todos os sofrimentos foram, são e serão dádivas para a plantação das dores e flores da vida e da eternidade que construiremos juntos.

Adriano Abreu

Presidente do Piauhy estúdio das Artes

terça-feira, 9 de julho de 2013






OFICINOCRACIA

O título em questão retirei-o de um longo artigo escrito, não entregue(ainda),  aos atores do NED (Núcleo de Estudos Dramáticos), dirigido pelo meu Brother In Arms, Chiquinho Pereira, na Escola Técnica de Teatro Gomes Campos.  Atualmente o mesmo anda mais entibiado do que na época do monástico e finado Circo Negro (somos tolos de guerrear com nossos companheiros de batalha), continue a trabalhar meu irmão.
O escrevo no intuíto de romper minha própria e aparente sisudez, portanto não estranhem, raríssimos leitores, certo ar irônico impresso nessas  linhas.
Reparo com filosófico interesse e, um desprezo ocultado há mil chaves, sete seria um risco, o obssessivo estímulo, esse indisfarçável, dos nossos atores, atrizes e aspirantes, entendam por aspirantes aqueles indivíduos que mosqueiam pelo mundo da arte sem saber muito porque fazem isso(ou será que sabem?), por essa modalidade formativa, as famigeradas oficinas teatrais que aportam vez por outra por essas plagas onde o teatro sobrevive e arqueja.

Pessoas de sabedoria inquestionável  me advertiram que erro terrível é generalizar, todavia, desconfio que os cursos teatrais de curta duração não estão servindo para muitas coisas, ou quase nada, aos herdeiros do Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense. Somente tem servido, em caso extremados, ou não, para que alguns de seus participantes pratiquem um exibicionismo vulgar, fruto de vacuidade humana, provincianismo ou até mesmo carência afetivo-sexual, algumas vezes aplacadas por algum integrante oportunista ou até oficineiro mais solícito. Irmãos, se eu estiver errado perdoem-me a acidez do verbo, mais precisamos saborear algo mais marcante, sorvam um pouco dessas indizíveis expressões e que voem palavras pesadas, sobreviveremos todos no final, um pouco de sinceridade jamais tirou a vida de alguém(não tenho certeza dessa afirmação).

Oficinocracia presume, na minha pouco ou nada ouvida opinião, um lugar onde aprendemos “de um tudo” e não internalizamos o básico do básico. Um estado de coisa epidérmico e letárgico, assemelhando-se há uma zubilândia.

Pergunto eventualmente aos oficinocratas(participantes assíduos de oficinas) a respeito do que acharam das formações que vivenciaram, dos sujeitos ou coletivos que vieram para coordená-las pelo projeto tal, as vezes até ministradas por gente da tribo, a resposta é sempre a mesma: “-  Achei legal, foi ótimo, maravilhoso”. Legal, ótimo, maravilhoso presupõe o quê mesmo?

Apesar das bordoadas desferidas por esse “humilde” encenador,  em geral,  a culpa não é das oficinas, apesar da diluição e canalhice de algumas, vedem-se gatos por lebres, copiam performances de artistas do youtube copiam e apresentam como originais para os desinformados descaradamente.  Todavia, a verdade é que a total responsabilidade para tanta deturpação(e até apropriação indébita) é do participante, ou melhor, das propaladas crises uterinas dos artístas locais de sentido, valor e método.

Uma atriz, que tive oportunidade de trabalhar, ministra e assiste oficinas há anos e nunca montou uma cena sequer,  denomina-se professora de teatro. Tudo se assemelha a coisa alguma na república teatral das oficinas. Outra moça em menos de um ano tornou-se especialista em todos os matizes da arte de representar sem ter participado  de uma produção respeitável. Um sujeito afirma ter vasta experiência em determinados aspectos dramatúrgicos por ter feito alguns mini-cursos. Oficinas de Clown proliferam-se como viroses, onde ministrantes e atores, nos seus desvarios e diluição, esquecem-se que esse é um trabalho de aprofundamento espiritual, não meras caretas, plágios ou “mímicas” ridículas. Alguns oficineiros copiam vivências e conteúdos de outras oficinas sem ao menos digerí-las. A pior de todas as histórias um amigo relatou-me, ao participar de uma oficina em um núcleo artístico local, ao perguntar, aos ministrantes qual seria a atividade a se trabalhar no dia, surpreendeu-se com a resposta: “-Hoje não vamos fazer nada, só pensar”.  Pode existir real possibilidade de uma pessoa viver sem pensar? A não ser que esteja em estado de morte cerebral. É tanta licenciosidade e até insanidade que torna-se difícil não sentir naúseas.

Pouco tempo atrás participei de uma oficina de Leituras Dramáticas promovida por uma instituição nacional, fiz porque começava a desenvolver um projeto denominado "Ciclo de Leituras Dramáticas", a coincidência é mãe de coisas boas e más. Travei um conhecimento amistoso com o cidadão que ia ministrá-la e fui com a cara e a conversa dele. Para mim, que a séculos me negava a fazer parte “desses encontros pedágogicos” foi proveitoso e frustante, esclarecerei o paradoxo: proveitoso porque pude rever conceitos e conteúdos relativos ao projeto que começava a desencadear, o tempo de evoluir é sempre o presente. Frustante porque percebi a diametral distância entre o proposto nessas formações e as mentalidades de quem as frequenta. Um poeta amigo, costumava dizer que “no fundo, no fundo o rio é raso”. No meu idealismo rizível (e amoroso) pessoas rasas não deviam procurar conhecimento que não desejam ou ofertar conhecimentos que não dominam,  não há “concerto”, a curto prazo para obtusidade.

Hoje, nesse universo da arte dita contemporânea (prefiro o eterno), os processo valem tanto quanto os resultados e avaliadores de projetos adoram uma boa oficina no papel, em virtude disso e, das fracas bilheterias, vamos continuar fabricando, ministrando e participando desses encontros de formação. Todavia, vale um conselho para quem deseja fazê-las: acorde bem cedo na manhã da oficina, leia o título da proposta e, ao invés de adentrar no Facebook, como fazes por impulso inconsciente(esse sintoma de alienação está epidêmico), estude sobre o assunto referente, provavelmente existe algum livro ou artigo sobre o proposto, na cada vez menor grande rede. Formule algumas perguntas consequentes sobre a temática a ser desenvolvida na oficina, guarde-as na cabeça ou no papel, se isso for do seu interesse, caso contrário, esqueça que seus colegas estarão por lá ou qualquer outro motivo menos nobre, volte a  dormir, o teatro agradece.

Adriano Abreu
Diretor do Piauy estúdio das Artes

sábado, 1 de junho de 2013

Revolucione-Se

                                          Foto: Vitor Sampaio



             Revolucione-Se

“As pessoas mudam e revelam-se na ação”.
do amor e da dor nos tempos eternos.”

 “Exercício Sobre Medéia”



           Meu filho de 14 anos falava entre o irônico e o desapontado que eu tinha acabado com seus sonhos quando disse que nenhuma música era revolucionária a ponto de mudar o mundo. Não falei toda verdade, aliás, essa conversa entre eu e ele, motivou este artigo.
           Nenhuma arte é capaz de modificar ou criar as circunstâncias históricas que possibilitam a transformação radical da sociedade, ou seja, promover revoluções. A utopia Artaudiana de um teatro que promovesse situações francamente revolucionarias (teatro como a peste) mostrou-se sonho do paraíso perdido. O correto é que as manifestações artísticas e seus executores, os artistas, são vítimas e, paralelamente, algozes do seu tempo. Contudo, aparentemente (só aparentemente), os construtores culturais, desenvolvem tal multiplicidade de influências que, paradoxalmente, rompem fronteiras do tempo-espaço. Na minha aldeia, Teresina, Chapada dos Raios, existem coletivos e pessoas realizadores de proposições teatrais referentes aos séculos XIX, XX e XXI, concomitantemente. A perspectiva em questão pode perfeitamente estender-se as outras artes. Outro dia, apreciava um show de música pop dos anos 80, realizado por um artista que iniciou sua produção cultural nos anos 2000, com um público que acreditava, timidamente, que o show vivenciado era novo, mas não era. O artista mostrava canções possivelmente relevantes há trinta anos atrás. Hoje o que dizer?  Certas coisas não são possíveis maquiar, mesmo nas redes a-sociais. Portanto, podem conviver artes de diferentes momentos históricos numa mesma época, alguns, afirmam que essa peculiaridade é privilégio da propalada contemporaneidade, eu discordo, creio apenas em cosmo visões (ideologicamente construídas), percepções e sensos estéticos diversos habitando o mesmo momento histórico.      
             Todavia, a reflexão é outra, nossa motivação diz respeito à propriedade revolucionária da arte. Revoluções, geralmente, são realizadas por jovens “guiados” por adultos impregnados de objetivos nem sempre altruístas. Desconfio de todas as ações, mesmo na produção cultural, ditas rebeldes ou revolucionárias. Conheço um grupo, habitante da mesma província minha, que realiza trabalhos esgotados na Europa do século vinte, vendido como produção cultural absolutamente radical, questionadora com potencial de mudança, a coisa tem pegado como chiclete no cabelo, alguns já diluem a diluída proposição desse coletivo, quanta fragilidade cultural. Acredite quem quiser, não sou mais tão ingênuo, para mim, tal manifestação artística não passa de escolho com conteúdo conservador, alienante e dominador, por sua vez, não revolucionário.
             O problema do meu filho, no entanto, é real, portanto merece elucidação. Se existe revolução (mudança radical) ela sempre ocorre de dentro para fora, se houver predisposição do sujeito para mudança, através de um processo lento e progressivo, que envolve incontáveis possibilidades e reflexões embasadas nos valores individuais relacionando-se no tempo-espaço sócio-cultural. Uma canção, um espetáculo teatral, uma obra de audiovisual pode servir de “estímulo” para essa reflexão, porém, sozinha, por mais bem elaborada que seja a obra de arte, dificilmente provocará significativas transformações. O que ocorre é que por um profundo comprometimento individual alguns artistas conseguem, através de poderoso poder de divulgação e empatia (alguns dizem sucesso), estimular, e muito, determinado período e conjunto de indivíduos,  de forma estereotipada e superficial seus seguidores, daí dizer que mudaram pessoas, ou ainda, revolucionaram a sociedade seria sofisma. Quantos indivíduos que se vestem como o Raul Seixas gostariam de viver na “Sociedade Alternativa”? Será que entenderam os objetivos do artista? Quantos diretores ditos “Grotowskianos”, “Brechinianos”, “Stanislavskianos”, leram e, compreenderam seus escritos espetáculos e propostas? Creio que se tivessem compreendido não se declarariam discípulos desses mestres, até porque suas buscas pessoais são irrepetíveis, devido às condições peculiares de suas descobertas.
        O Poeta Paulo Machado afirma que a poesia “é torpedo suicida”. Acredito nesse verso, faço arte por que creio na mudança, mas aprendi: “As pessoas mudam e revelam-se na ação do amor e da dor nos tempos eternos”.


Adriano Abreu
Diretor do Piauhy Estúdio das Artes

            


            (Dedicado aos atores do Ciclo de Leituras Dramáticas 2013) 

quinta-feira, 18 de abril de 2013





Solilóquio Sobre Exterioridades

         No periódico em branco, negro e vermelho frutificam exterioridades.
         Para que a minha boca e pena não se percam, reflito.
          Calarei diante da iniguidade das instituições mortas, das pessoas que deixaram-se, alegremente, sufocar pelos arbustos da corrupção, plantanda por seus pais e padrinhos artísticos que murmuram aflitos: “Deus meu, meus filhos furtam-me a oportunidade de um ocaso na arte mais confortável”.
           Minha face permaneça, imperturbável, diante dos que bravateiam coerência (só existe uma coerência, o paradoxo)com a chibata nas mãos berram, enquanto farejam editais: “Por favor me aluguem, comprem minhas visões, sou forte, inteligente, poderoso, cidadão do mundo em ruínas, promovo uma arte que se alia com esse mundo”. Voluntária ou involuntariamente somos deuses e pobres coitados ao mesmo tempo. Quem acha-se em diferença atire a primeira pedra.
             Pernas e braços não marchem em direção ao convivio dos parvos, mas os abraço, se preciso for. Membros que  me movem esqueçam o caminho dos maledicentes, esses, distante fico, pois são de doença incurável. Divertem-se na lama de suas insignificâncias, na sua necessidade mórbida de reconhecimento. Proliferam-se como micróbios na casa da arte piauiense. Todavia, os maldosos e os obtusos apenas reproduzem seus pálidos referenciais. Vítimas de escolhas infaustas.
            Não, minhas mãos e pés não jogam mais partidas de poder, ele está morto, porque todas as mentiras foram reveladas. Quem ainda acredita nelas, perderam e perdem suas vidas nos umbrais digitais, em conversas fúteis embaladas no vácuo, mesmo nesses lugares, com pouca inteligência, podemos  ler nas entrelinhas.
           Os que sentam nas cadeiras, em geral, são crianças mal formadas,  desaprenderam a chorar nos seus  enquanto tomam conta dos seus calvários institucionais. Riem, riem a esmo, cinismos e sarcasmos revelam, vazios e desesperada culpa. Verto suor,  sangue, que reguem uma arte, que ao falar dos mais terríveis atos, seja cheia de sabedoria, encantamento, luz de esperança, contemplando toda infinita e resiliente luta dos homens e mulheres na busca da felicidade que só a justiça suprema traz.
           Espiríto mostre-me a estrada da paz relativa, prometida no primeiro dia que invadi, com minhas angústias, a sala de ensaios.
          Todo meu ser infunde no amor que arrebenta os cárceres da ilusão, onde a visão superficial que tinha da arte plantou- se como joio. Retorço-me, é bem verdade, porém, a cada dia a carrasco, retira-se uma nódua da aparência do que não sou. Na arte fui tudo, monge, cortesão e tartufo. Desci(se preciso desço) aos porões infectos e voltei  incólume,  mais humilde, lá descobri anjos. O que me falta?
         Hoje sei, cada artísta siga seu destino, cabe a mim, apenas, soprar as velas do meu barco, a coragem que exercito em me expôr nestas horas é, a mesma que sugere no próximo minuto o meu siêncio, ainda assim, tudo isso são exterioridades.

(Adriano Abreu é diretor de teatro)

segunda-feira, 8 de abril de 2013






Transcenda ou Desapareça dos Palcos

              O título pode parecer manifestação de revolta, arrogância, frustração. Talvez uma infausta, porém ingênua, pretensão de mudar os rumos do Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense, o que seria utópico. O mestre Paulo Freire afirma:  “Só os profetas podem  ser utópicos” . Este ensaio é filho de um sentimento amoroso, comum aos amantes que nutrem enorme expectativas em relação ao ser amado. O teatro.
            Escrevo para os que sonham, trabalham noite e dia para viver na arte, da arte. Escrevinho também aos absenteístas, um dos grandes homens do teatro do Piauí lamentava com sorriso entredentes: “ - Faltaram quatro atores hoje ao ensaio”. Como é triste o desamor. Grito aos que gastaram honestamente até o último centavo e para os que corromperam a própria consciência por trocados. Clamo aos lúcidos, viajantes da imaginação criadora infinita e eternamente pura, mas também, aos que se drogaram nas sombras da arte e, assim, adentraram as salas de labor. Abraço afetuosamente os meus irmãos de luta que confrontaram-me com realidades amargas, todavia, acalento os embriagados de maledicência e falsidade que sorveram meu sangue na punhalada covarde. De mãos dadas com os que me amam e são por mim amados, sigo com olhar marejado no adeus os que pensam me odiar, sei, já que não conseguem esconder, queriam estar ao meu lado. Conclamo a todos, todos, sem exceção" TRANSCENDAM NO ATO TEATRAL OU DESAPAREÇAM DOS PALCOS."
          Horas imponderáveis chegam velozes como foices sobre nossas cabeças. Qual legado poderemos deixar para as gentes de teatro que repousam nos úteros das mães? Que memórias bordaremos  na túnica do tempo e do espaço? Por que viver  dentro da arte impregnando ar, terras férteis, mananciais d’água cristalina do teatro com horizontes precários do medo, maldade e loucura?
         Vi um espetáculo na periferia da cidade, o épico da “Paixão de Cristo”, na ingenuidade suave-rude daqueles jovens artistas, revelou-se toda essência do teatro, vontade de transcender. Por um instante a tempestade que se avolumou por traz do morro da iniquidade cessou, enxerguei uma estrela que me disse: “ - Fique mais um pouco. Ainda não é hora de ir embora”

Adriano Abreu (estação das águas)