Transcenda ou
Desapareça dos Palcos
O título pode parecer
manifestação de revolta, arrogância, frustração. Talvez uma infausta, porém
ingênua, pretensão de mudar os rumos do Teatro Brasileiro de Expressão
Piauiense, o que seria utópico. O mestre Paulo Freire afirma: “Só os profetas podem ser utópicos” . Este ensaio é filho de um
sentimento amoroso, comum aos amantes que nutrem enorme expectativas em relação
ao ser amado. O teatro.
Escrevo para os que sonham, trabalham noite e dia para viver na arte, da
arte. Escrevinho também aos absenteístas, um dos grandes homens do teatro do
Piauí lamentava com sorriso entredentes: “ - Faltaram quatro atores hoje ao ensaio”.
Como é triste o desamor. Grito aos que gastaram honestamente até o último
centavo e para os que corromperam a própria consciência por trocados. Clamo aos
lúcidos, viajantes da imaginação criadora infinita e eternamente pura, mas
também, aos que se drogaram nas sombras da arte e, assim, adentraram as salas
de labor. Abraço afetuosamente os meus irmãos de luta que confrontaram-me com realidades
amargas, todavia, acalento os embriagados de maledicência e falsidade que
sorveram meu sangue na punhalada covarde. De mãos dadas com os que me amam e
são por mim amados, sigo com olhar marejado no adeus os que pensam me odiar,
sei, já que não conseguem esconder, queriam estar ao meu lado. Conclamo a
todos, todos, sem exceção: " TRANSCENDAM NO ATO TEATRAL OU DESAPAREÇAM DOS PALCOS."
Horas imponderáveis chegam velozes como foices sobre nossas cabeças. Qual
legado poderemos deixar para as gentes de teatro que repousam nos úteros das
mães? Que memórias bordaremos na túnica
do tempo e do espaço? Por que viver
dentro da arte impregnando ar, terras férteis, mananciais d’água
cristalina do teatro com horizontes
precários do medo, maldade e loucura?
Vi um espetáculo na periferia da cidade, o épico da “Paixão de Cristo”,
na ingenuidade suave-rude daqueles jovens artistas, revelou-se toda essência do
teatro, vontade de transcender. Por um instante a tempestade que se avolumou
por traz do morro da iniquidade cessou, enxerguei uma estrela que me disse: “ - Fique
mais um pouco. Ainda não é hora de ir embora”
Adriano Abreu (estação das águas)
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