quinta-feira, 18 de abril de 2013





Solilóquio Sobre Exterioridades

         No periódico em branco, negro e vermelho frutificam exterioridades.
         Para que a minha boca e pena não se percam, reflito.
          Calarei diante da iniguidade das instituições mortas, das pessoas que deixaram-se, alegremente, sufocar pelos arbustos da corrupção, plantanda por seus pais e padrinhos artísticos que murmuram aflitos: “Deus meu, meus filhos furtam-me a oportunidade de um ocaso na arte mais confortável”.
           Minha face permaneça, imperturbável, diante dos que bravateiam coerência (só existe uma coerência, o paradoxo)com a chibata nas mãos berram, enquanto farejam editais: “Por favor me aluguem, comprem minhas visões, sou forte, inteligente, poderoso, cidadão do mundo em ruínas, promovo uma arte que se alia com esse mundo”. Voluntária ou involuntariamente somos deuses e pobres coitados ao mesmo tempo. Quem acha-se em diferença atire a primeira pedra.
             Pernas e braços não marchem em direção ao convivio dos parvos, mas os abraço, se preciso for. Membros que  me movem esqueçam o caminho dos maledicentes, esses, distante fico, pois são de doença incurável. Divertem-se na lama de suas insignificâncias, na sua necessidade mórbida de reconhecimento. Proliferam-se como micróbios na casa da arte piauiense. Todavia, os maldosos e os obtusos apenas reproduzem seus pálidos referenciais. Vítimas de escolhas infaustas.
            Não, minhas mãos e pés não jogam mais partidas de poder, ele está morto, porque todas as mentiras foram reveladas. Quem ainda acredita nelas, perderam e perdem suas vidas nos umbrais digitais, em conversas fúteis embaladas no vácuo, mesmo nesses lugares, com pouca inteligência, podemos  ler nas entrelinhas.
           Os que sentam nas cadeiras, em geral, são crianças mal formadas,  desaprenderam a chorar nos seus  enquanto tomam conta dos seus calvários institucionais. Riem, riem a esmo, cinismos e sarcasmos revelam, vazios e desesperada culpa. Verto suor,  sangue, que reguem uma arte, que ao falar dos mais terríveis atos, seja cheia de sabedoria, encantamento, luz de esperança, contemplando toda infinita e resiliente luta dos homens e mulheres na busca da felicidade que só a justiça suprema traz.
           Espiríto mostre-me a estrada da paz relativa, prometida no primeiro dia que invadi, com minhas angústias, a sala de ensaios.
          Todo meu ser infunde no amor que arrebenta os cárceres da ilusão, onde a visão superficial que tinha da arte plantou- se como joio. Retorço-me, é bem verdade, porém, a cada dia a carrasco, retira-se uma nódua da aparência do que não sou. Na arte fui tudo, monge, cortesão e tartufo. Desci(se preciso desço) aos porões infectos e voltei  incólume,  mais humilde, lá descobri anjos. O que me falta?
         Hoje sei, cada artísta siga seu destino, cabe a mim, apenas, soprar as velas do meu barco, a coragem que exercito em me expôr nestas horas é, a mesma que sugere no próximo minuto o meu siêncio, ainda assim, tudo isso são exterioridades.

(Adriano Abreu é diretor de teatro)

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