Solilóquio Sobre Exterioridades
No
periódico em branco, negro e vermelho frutificam exterioridades.
Para
que a minha boca e pena não se percam, reflito.
Calarei
diante da iniguidade das instituições mortas, das pessoas que deixaram-se,
alegremente, sufocar pelos arbustos da corrupção, plantanda por seus pais e
padrinhos artísticos que murmuram aflitos: “Deus meu, meus filhos furtam-me a
oportunidade de um ocaso na arte mais confortável”.
Minha
face permaneça, imperturbável, diante dos que bravateiam coerência (só existe
uma coerência, o paradoxo)com a chibata nas mãos berram, enquanto farejam
editais: “Por favor me aluguem, comprem minhas visões, sou forte, inteligente,
poderoso, cidadão do mundo em ruínas, promovo uma arte que se alia com esse
mundo”. Voluntária ou involuntariamente somos deuses e pobres coitados ao mesmo
tempo. Quem acha-se em diferença atire a primeira pedra.
Pernas
e braços não marchem em direção ao convivio dos parvos, mas os abraço, se
preciso for. Membros que me movem
esqueçam o caminho dos maledicentes, esses, distante fico, pois são de doença
incurável. Divertem-se na lama de suas insignificâncias, na sua necessidade
mórbida de reconhecimento. Proliferam-se como micróbios na casa da arte piauiense.
Todavia, os maldosos e os obtusos apenas reproduzem seus pálidos referenciais.
Vítimas de escolhas infaustas.
Não,
minhas mãos e pés não jogam mais partidas de poder, ele está morto, porque
todas as mentiras foram reveladas. Quem ainda acredita nelas, perderam e perdem
suas vidas nos umbrais digitais, em conversas fúteis embaladas no vácuo, mesmo
nesses lugares, com pouca inteligência, podemos
ler nas entrelinhas.
Os
que sentam nas cadeiras, em geral, são crianças mal formadas, desaprenderam a chorar nos seus enquanto tomam conta dos seus calvários
institucionais. Riem, riem a esmo, cinismos e sarcasmos revelam, vazios e
desesperada culpa. Verto suor, sangue,
que reguem uma arte, que ao falar dos mais terríveis atos, seja cheia de
sabedoria, encantamento, luz de esperança, contemplando toda infinita e
resiliente luta dos homens e mulheres na busca da felicidade que só a justiça
suprema traz.
Espiríto
mostre-me a estrada da paz relativa, prometida no primeiro dia que invadi, com
minhas angústias, a sala de ensaios.
Todo
meu ser infunde no amor que arrebenta os cárceres da ilusão, onde a visão superficial
que tinha da arte plantou- se como joio. Retorço-me, é bem verdade, porém, a
cada dia a carrasco, retira-se uma nódua da aparência do que não sou. Na arte
fui tudo, monge, cortesão e tartufo. Desci(se preciso desço) aos porões
infectos e voltei incólume, mais humilde, lá descobri anjos. O que me
falta?
Hoje
sei, cada artísta siga seu destino, cabe a mim, apenas, soprar as velas do meu
barco, a coragem que exercito em me expôr nestas horas é, a mesma que sugere no
próximo minuto o meu siêncio, ainda assim, tudo isso são exterioridades.
(Adriano
Abreu é diretor de teatro)