terça-feira, 9 de julho de 2013






OFICINOCRACIA

O título em questão retirei-o de um longo artigo escrito, não entregue(ainda),  aos atores do NED (Núcleo de Estudos Dramáticos), dirigido pelo meu Brother In Arms, Chiquinho Pereira, na Escola Técnica de Teatro Gomes Campos.  Atualmente o mesmo anda mais entibiado do que na época do monástico e finado Circo Negro (somos tolos de guerrear com nossos companheiros de batalha), continue a trabalhar meu irmão.
O escrevo no intuíto de romper minha própria e aparente sisudez, portanto não estranhem, raríssimos leitores, certo ar irônico impresso nessas  linhas.
Reparo com filosófico interesse e, um desprezo ocultado há mil chaves, sete seria um risco, o obssessivo estímulo, esse indisfarçável, dos nossos atores, atrizes e aspirantes, entendam por aspirantes aqueles indivíduos que mosqueiam pelo mundo da arte sem saber muito porque fazem isso(ou será que sabem?), por essa modalidade formativa, as famigeradas oficinas teatrais que aportam vez por outra por essas plagas onde o teatro sobrevive e arqueja.

Pessoas de sabedoria inquestionável  me advertiram que erro terrível é generalizar, todavia, desconfio que os cursos teatrais de curta duração não estão servindo para muitas coisas, ou quase nada, aos herdeiros do Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense. Somente tem servido, em caso extremados, ou não, para que alguns de seus participantes pratiquem um exibicionismo vulgar, fruto de vacuidade humana, provincianismo ou até mesmo carência afetivo-sexual, algumas vezes aplacadas por algum integrante oportunista ou até oficineiro mais solícito. Irmãos, se eu estiver errado perdoem-me a acidez do verbo, mais precisamos saborear algo mais marcante, sorvam um pouco dessas indizíveis expressões e que voem palavras pesadas, sobreviveremos todos no final, um pouco de sinceridade jamais tirou a vida de alguém(não tenho certeza dessa afirmação).

Oficinocracia presume, na minha pouco ou nada ouvida opinião, um lugar onde aprendemos “de um tudo” e não internalizamos o básico do básico. Um estado de coisa epidérmico e letárgico, assemelhando-se há uma zubilândia.

Pergunto eventualmente aos oficinocratas(participantes assíduos de oficinas) a respeito do que acharam das formações que vivenciaram, dos sujeitos ou coletivos que vieram para coordená-las pelo projeto tal, as vezes até ministradas por gente da tribo, a resposta é sempre a mesma: “-  Achei legal, foi ótimo, maravilhoso”. Legal, ótimo, maravilhoso presupõe o quê mesmo?

Apesar das bordoadas desferidas por esse “humilde” encenador,  em geral,  a culpa não é das oficinas, apesar da diluição e canalhice de algumas, vedem-se gatos por lebres, copiam performances de artistas do youtube copiam e apresentam como originais para os desinformados descaradamente.  Todavia, a verdade é que a total responsabilidade para tanta deturpação(e até apropriação indébita) é do participante, ou melhor, das propaladas crises uterinas dos artístas locais de sentido, valor e método.

Uma atriz, que tive oportunidade de trabalhar, ministra e assiste oficinas há anos e nunca montou uma cena sequer,  denomina-se professora de teatro. Tudo se assemelha a coisa alguma na república teatral das oficinas. Outra moça em menos de um ano tornou-se especialista em todos os matizes da arte de representar sem ter participado  de uma produção respeitável. Um sujeito afirma ter vasta experiência em determinados aspectos dramatúrgicos por ter feito alguns mini-cursos. Oficinas de Clown proliferam-se como viroses, onde ministrantes e atores, nos seus desvarios e diluição, esquecem-se que esse é um trabalho de aprofundamento espiritual, não meras caretas, plágios ou “mímicas” ridículas. Alguns oficineiros copiam vivências e conteúdos de outras oficinas sem ao menos digerí-las. A pior de todas as histórias um amigo relatou-me, ao participar de uma oficina em um núcleo artístico local, ao perguntar, aos ministrantes qual seria a atividade a se trabalhar no dia, surpreendeu-se com a resposta: “-Hoje não vamos fazer nada, só pensar”.  Pode existir real possibilidade de uma pessoa viver sem pensar? A não ser que esteja em estado de morte cerebral. É tanta licenciosidade e até insanidade que torna-se difícil não sentir naúseas.

Pouco tempo atrás participei de uma oficina de Leituras Dramáticas promovida por uma instituição nacional, fiz porque começava a desenvolver um projeto denominado "Ciclo de Leituras Dramáticas", a coincidência é mãe de coisas boas e más. Travei um conhecimento amistoso com o cidadão que ia ministrá-la e fui com a cara e a conversa dele. Para mim, que a séculos me negava a fazer parte “desses encontros pedágogicos” foi proveitoso e frustante, esclarecerei o paradoxo: proveitoso porque pude rever conceitos e conteúdos relativos ao projeto que começava a desencadear, o tempo de evoluir é sempre o presente. Frustante porque percebi a diametral distância entre o proposto nessas formações e as mentalidades de quem as frequenta. Um poeta amigo, costumava dizer que “no fundo, no fundo o rio é raso”. No meu idealismo rizível (e amoroso) pessoas rasas não deviam procurar conhecimento que não desejam ou ofertar conhecimentos que não dominam,  não há “concerto”, a curto prazo para obtusidade.

Hoje, nesse universo da arte dita contemporânea (prefiro o eterno), os processo valem tanto quanto os resultados e avaliadores de projetos adoram uma boa oficina no papel, em virtude disso e, das fracas bilheterias, vamos continuar fabricando, ministrando e participando desses encontros de formação. Todavia, vale um conselho para quem deseja fazê-las: acorde bem cedo na manhã da oficina, leia o título da proposta e, ao invés de adentrar no Facebook, como fazes por impulso inconsciente(esse sintoma de alienação está epidêmico), estude sobre o assunto referente, provavelmente existe algum livro ou artigo sobre o proposto, na cada vez menor grande rede. Formule algumas perguntas consequentes sobre a temática a ser desenvolvida na oficina, guarde-as na cabeça ou no papel, se isso for do seu interesse, caso contrário, esqueça que seus colegas estarão por lá ou qualquer outro motivo menos nobre, volte a  dormir, o teatro agradece.

Adriano Abreu
Diretor do Piauy estúdio das Artes