Sabemos Muito, Mas Não o Suficiente!
Este é o Teatro: um ritual vazio e ineficaz que enchemos
Com nossos “porquês”, com nossas necessidades pessoais.
Que em alguns países do nosso planeta é celebrado
na indiferença e que em outros pode custar a vida de quem faz.
Eugenio Barba
A maturidade teatral tem me mostrado,
que apesar de meus esforços, o quanto eu
não sei nem nomear o que eu não sei, até essa frase cunhada não sabia até a
pouco.
O talentoso e insubordinado (por princípio)
amigo Jean Pessoa falava com o olhar desesperançoso, daqueles que demonstram
que alguma coisa ficou perdida pelo caminho, que não sabia de nada no teatro. Automaticamente repliquei: - Sabemos muito, mas não o suficiente!
Essa descoberta revela o fim da ingenuidade e, se nos traz, uma
dose cavalar de angustia, na minha opinião é indispensável a qualquer criador que
se preze, nos libertando de pelo menos dois males extremos que afligem o nosso
ofício: a indolente arrogância de algumas pessoas das gerações antigas que
consideram que sabem de tudo, e o arriscado comportamento de muitos membros das
novas gerações que acham que já sabem o bastante.
Quando avidamente retornei à cena
teatral, após uma quinquena de um exílio auto imposto dos palcos, mas não do
teatro, deparei-me com novos e exuberantes artistas, cheios de fé e força, que
realizavam suas reuniões de trabalho no tradicional Bar do João no Clube dos Diários,
obviamente que os encontros eram regados a cervejas geladas e, os projetos
imaginados, dificilmente, sairiam daquelas conversas para concretude. Na outra
ponta da linha, as antigas “celebridades”
da oblíqua Classe Teatral desfilavam
na passarela das nefandas Instituições Públicas de Cultura, com seus saltos
altos de supostas glórias do passado, à cata de editais culturais ou outras
verbinhas (esmolas do poder público as cênicas), reconhecimento de alguém que
estivesse disposto a elogiá-los e, até de “certos
favores”, de algum jovem iniciante incauto, ambicionando projeção. Os “velhos companheiros” só não se
preocuparam em repassar suas “valiosas” experiências, angariadas a duras penas,
a troco de longos anos de batalhas de uma vida nos palcos, aos que vinham
chegando, tão pouco, atentaram-se para a necessidade de renovar, constituir,
manter e dar continuidade as suas tradições teatrais. O que eu encontrei quando
retornei ao Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense foi um cenário oscilante
entre a ausência de algum futuro aceitável e um presente brutalmente
fragmentado. Historicamente vivíamos o final da primeira década do século XXI.
Na minha estúpida e intolerável
vaidade considerava que podia alterar a ordem das coisas. Percebi, em um breve
espaço de tempo, que não passava, também, de um idiota a mais da antiga geração
querendo destilar, para os neófitos, conceitos que não dominava e valores não
praticados para imberbes artistas, que não se interessavam por nada disso. Existe uma máxima, retratada em canção, que
diz que “mentir pra si mesmo é sempre a
pior mentira”, atualmente, tenho visto, tantos “auto-mentirosos” nos palcos que
já não sei “se rio ou morro”.
Depois de cinco anos do retorno a vida
teatral do estado e, de uma intensa atividade nessa área, posso afirmar que
pouca coisa mudou mas, como dizia Heráclito, seiscentos anos antes da era
Cristã: “-Não entramos duas vezes no
mesmo rio.” Ao que Jorge Luis Borges complementa: “- Nem o rio é o mesmo e muito menos nós (não menos fluidos que o rio).
Somente o ato inalienável da vivência na arte é capaz de transmitir
aprendizagens, convicto de que se alguma virtude possuo, ela se chama vontade de aprender, e aprender sem
compartilhar o aprendizado é a mais pura inocuidade. Portanto compartilho,
humildemente, que tenho aprendido a respeitar o direito dos “novos” de serem e fazerem o que
quiserem de suas vidas e visões artísticas, ao mesmo tempo, esse conhecimento me ensinou a exigir dos que
querem conviver no teatro ao meu lado, compromissos crescentes, para que eles
próprios sejam melhores naquilo que escolheram como trabalho e orientação
existencial, caso contrário, os aconselho a procurarem outro caminho, pois
ninguém é obrigado a fazer teatro.
Hoje sei que os “velhos camaradas” das artes cênicas, apenas temem serem
esquecidos, como outrora eu também temia. Temores são reflexos de nossa
incapacidade de encarar o espelho da realidade e assumir que precisamos
avançar.
Aprendi, entre outras coisas, que é melhor que alguns partam, para melhor oxigenação do trabalho coletivo. Liberando o teatro dos dúbios e farsantes a vida torna-se mais tranquila. Sobretudo, sei que não devo jamais dar as costas para o meu trabalho de diretor, para meus estudos e para realização das metas estabelecidas.
Aprendi, entre outras coisas, que é melhor que alguns partam, para melhor oxigenação do trabalho coletivo. Liberando o teatro dos dúbios e farsantes a vida torna-se mais tranquila. Sobretudo, sei que não devo jamais dar as costas para o meu trabalho de diretor, para meus estudos e para realização das metas estabelecidas.
A verdade sempre se impõe
irresistível. Ela me diz que a ninguém cabe mudar os destinos do Teatro
Brasileiro de Expressão Piauiense e dos homens e mulheres que o fazem, porém,
tenho obrigação de operar mudanças em mim mesmo como individualidade artística,
todavia, tudo isso ainda não é o suficiente, no entanto, como afirmava Kant:
“-Sapere aude! – Ousai Saber!
Para o irreformável ator e poeta da cena Jean Pessoa.
Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes
Estação da Seca
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