2014 Um Ano
Teatral de Resistência e Fragilidades
2014
fecha suas cortinas como começou:
repleto de lacunas e perplexidades com escassas iniciativas e esperanças
esparsas nos céus do Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense.
Entre as lacunas e perplexidades é
impossível deixar de lembrar: o que parecia começar promissoramente, acabou
tornando-se apenas mais imbróglio; falo
do espetáculo “Batalha do Jenipapo”, realizado todos os anos na cidade de Campo
Maior, promovido pela nossa Fundação Estadual de Cultura, e que se
artisticamente não acrescenta muita coisa a cena piauiense, pelo menos garante
uma trabalho remunerado anualmente para cerca de oitenta atores, atrizes,
técnicos, produtores e diretor. Após a promessa de uma melhoria nas condições
de trabalho dos artistas, inclusive celeridade no pagamento de cachês, nada se
concretizou. As condições de trabalho não foram adequadas e o pagamento só foi
liberado depois de muitas polêmicas desnecessárias. A nossa Instituição
Estadual de Cultura, até o momento, também não pagou cachês e premiações
referentes as comemorações do dia do Teatro, vinte e sete de março, ou seja, os
artistas envolvidos no evento estão a mais de oito meses sem ver a cor do dinheiro, conquistado com seu suado trabalho;
o dia do teatro, realizado com tanta alegria, acabou tornando-se, apenas, uma
antiga novela de luta pelos merecidos cachês. A Escola Técnica de Teatro Gomes
Campos passou o ano praticamente fechada, em virtude de uma reforma
interminável, correndo inclusive o risco de fechar permanentemente. O SIEC
(Sistema de Incentivo Estadual a Cultura) perdeu quase cinquenta por cento dos
incentivos fiscais, e deixou de avaliar alguns projetos teatrais por falta de
recursos disponíveis. Enfim, cabe esperar melhores dias na cultura estadual
representada pela FUNDAC.
Na Fundação Municipal de Cultura
Monsenhor Chaves as coisas não foram diferentes para nossa arte: o Festival
Nacional de Teatro Ana Maria Rego não aconteceu; isso é inadmissível,
lamentável e injustificável. Gostaria de lembrar o não pagamento das premiações
do citado “Festival” a alguns grupos nacionais desde o ano de 2012, o que levou
a um tremendo desgaste do nosso mais tradicional evento teatral nacional com
vários grupos e artistas brasileiros. A FCMC tentou realizar uma circulação de
espetáculos locais pela capital, projeto nunca concretizado, em detrimento da burocracia
ou outro motivo qualquer, pouco importa, para o teatro produzido na cidade o
ano foi de tremenda perplexidade. A Lei Arimatéia Tito Filho, de fomento as
atividades culturais de Teresina, continua inerte desde de 2012, isso inclui
pelo menos quatro projetos teatrais sem solução de continuidade. Como vimos, na
cultura publica municipal em relação ao teatro, tivemos um ano ridiculamente
decepcionante.
No quesito
esperanças esparsas podemos citar: o SESC (Serviço Social do Comércio), que
manteve os seus projetos nacionais: Amazônia das Artes, Palco Giratório (com
menos espetáculos nacionais circulando que no ano anterior) e o Leituras em
Cena. Digno de nota foi a participação do primeiro trabalho piauiense no
Projeto Palco Giratório, “Menu de Heróis”, representado por atuantes ligados ao
Núcleo do Dirceu. A instituição, conhecida nacionalmente pelo amplo apoio as
artes cênicas, ainda tentou articular
uma circulação estadual de trabalhos teatrais no mês de março, convidando dez
espetáculos locais, depois teve que cancelar, alegando problemas operacionais,
no entanto, retomou o “Projeto Pipoca e Guaraná”, voltado para o público
infantil e juvenil, que não tinha sido realizado em 2013. O SESC local passa
por momentos de troca de Coordenação Regional de Cultura e, em 2015, aguardamos
esperançosos, uma ação mais efetiva localmente na área teatral.
As
poucas iniciativas exitosas vieram dos grupos teatrais e artistas da cena, que
diante das circunstâncias difíceis, produziram o que puderam produzir: a Épica
Cia de Criações, dirigida por Wanderson Lima, apostou no seu trabalho “Secante”,
obtendo bons resultados, inclusive levando o espetáculo para fora do estado;
Corpos e Oficinão, capitaneados pelo diretor e ator Adalmir Miranda, investiu
em jovens artistas com “Assombrações” e “Palhaçada”; o Humanitas mostrou um
novo trabalho, em comemoração aos 15 anos de trabalho do ator Júnior Marks, com
direção de Luciano Brandão, estreando “Quando o Amor Não é Assim é Assado”; o
mesmo Luciano ainda encenou e adaptou um conto de Caio Fernando Abreu, dando
origem ao espetáculo “Sobre Borboletas”; Jean Pessoa e Alinnie Moura retornam
as atividades juntos, com um novo grupo
denominado Cabeça de Sol, e um novo
trabalho “A Noiva e o Caubói ”. O Grupo Utopia, do incansável Chicão Borges,
estreou um trabalho de rua “O Casamento de Nego Chico e Catirina”; O Proposta,
liderado por Roger Ribeiro, apresentou a peça “Adorável Chip Novo”, também,
apostando em novas promessas; O Grupo Harém de Teatro continuou exibindo seu
espetáculo “Abrigo São Loucas” pelo estado, através do Programa Cultura Viva, Lari Sales levou
sua “Rainha do Rádio” para Vitória-ES e Vitorino Rodrigues e seus companheiros
continuam trabalhando espetáculos para crianças e investem no espetáculo manifesto “Geleia Geral”. No mês
de dezembro, já encerrando o ano cênico, tivemos uma pré-estréia; “Itararé a
Republica dos Desvalidos”, texto de José Afonso e direção de Arimatan Martins.
Outros criadores usaram seus talentos e recursos em trabalhos comerciais,
voltados em geral para o público infantil, alguns até sem assinatura do grupo
ou diretor, portanto, literalmente descartáveis.
As mostras de teatro, em bairros da periferia da
cidade, também, protagonizaram bons momentos para cena teresinense,
acompanhamos de perto duas delas: a do Grupo COTJOC, no bairro Cidade Jardim, e
a do Grupo Utopia de Teatro, realizada no bairro São João, ambas com a
participação de bons trabalhos e presença de grande público. Além disso, muitas
organizações teatrais continuam produzindo as famosas representações da “Paixão
de Cristo”, que se esteticamente são repetíveis, em termos de público e mídia atraem multidões que se entretêm
alegremente com elas.
O
Coletivo Piauhy Estúdio das Artes continuou apresentando seus dois espetáculos:
“FOGO” e “Exercício Sobre Medeia”. Consolidou seu projeto “Ciclo de Leituras
Dramáticas”, com mais seis edições em 2014, sem nenhum apoio das Instituições
Públicas de Cultura do Estado ou do Município. O “Ciclo” comemorou seu primeiro
ano com uma grande festa na Casa de Cultura de Teresina, onde lançou o
Suplemento Cultural do Coletivo, que atende pelo nome de “CIGARRA”, com nova
edição prevista para janeiro de 2015. O grupo conseguiu, com imensas
dificuldades financeiras, levar o espetáculo “FOGO” para o o 21º Festival Nordestino de Teatro de
Guaramiranga- Ceará, obviamente sem nenhuma ajuda da Gestão Cultural Pública
Estadual ou Municipal, participando com excelente desempenho de público
e de crítica da Mostra Nordeste, que abrange alguns dos mais significativos
trabalhos teatrais da região no ano anterior. Apesar de não ser competitivo, a
curadoria do evento e o juri popular, consideraram o espetáculo do Piauhy como
um dos melhores do evento. Dessa forma, procuramos implementar uma visão
estratégica de atuação no cenário teatral local, e agora nordestino,
privilegiando produtos culturais de alta qualidade técnica, estética e
conceitual, com foco principal na formação integral do atuante e
suas interfaces com a arte do espetáculo. Criando e mantendo produtos teatrais
diversos, além de fomentar ações que visam implementar, fundamentar e
re-significar nossas “visões
teórico-práticas”, como também, a de outros grupos, pesquisadores e
artistas que compõem o Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense, dialogando a
respeito dessas “visões” através de
artigos regulares no blog do grupo, Suplemento Cigarra e Colóquios de Artes
Cênicas, sem nunca esquecer a importância do respeito as plateias nessa construção.
O Teatro continua vivo no Piauí! Apesar
do descaso do poder público, fracas bilheterias, inercia de boa parcela da dita
Classe Teatral, ausência de formação acadêmica, tendenciosíssimo dos invejosos,
falsa unidade dos artistas da cena, egoísmo, ignorância e incompreensão. Descortinamos
2015 como quem declara amor ao futuro.
Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes
Dezembro de 2014
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