Após o treinamento os Atuantes são convidados a produzir um texto reverberando todas as sensações acolhidas. Segue abaixo:
6º ENCONTRO
Por Àllex Cruz
Ator
O último Treinamento Cênico Funcional do ano de 2020 permeou em mim na continuidade de um reforço sobre as percepções internas e externas, como esses entendimentos nos ajuda a encontrar presentificação diante esse trabalho que não exige metade do atuante, sim uma completude. A descoberta de nossas fragilidades psicofísicas e que afetam o trabalho na cena foi um dos pontos importantes para esse treinamento, pois a cada encontro era o momento de acolher, entender para que nas próximas quintas-feiras fosssem superadas, mesmo que seja um pouco.
Assim tem sido na minha luta pela consciência respiratória e das explosões e gasto de energias inconscientes. O primeiro momento do aquecimento de presentificação, foi algo necessário também para o meu eu pessoal diante a limpeza que cada exercício proporcionou.
Destaco o exercício com posição de saudação com a testa no colchonete, a sensação flutuante zerou o dia , era como se eu estivesse acabado de acordar depois de um longo descanso com visualizações de locais que eu não lembro, mas que estão em mim. Nós sabemos que a respiração é essencial para vida, mas ter consciência do que seja realmente respirar tudo vai para dimensões grandiosas.
Mas uma vez minhas explosões energéticas quase me sabotam na execução das cenas de cada ato do treinamento. Principalmente na escada onde foi de início três tentativas para tentar iniciar, logo depois por toque da Silmara Silva nossa condutora nesse trabalho, eu pude pausar e voltar a concentrar no que eu precisava trabalhar internamente para fazer o que me era proposto externamente. É muito complicado entender muitas coisas que estão em nosso ser.
Nada que envolve nosso trabalho como atuante da cena deve somente surgir do que está exposto externamente, é preciso um estado de jogo entre o que está visível e invisível no corpo mente, nesse encontro dinâmico e fluido que nos proporciona entender até mesmo o pode parecer simples, quando na verdade é bem mais profundo do que se pode imaginar, como no exercício de Frescoboll e improviso onde foi dado mais um passo, e é assim que é o processo de aprendizagem, um passo de cada vez.
O jogo entre o interior e o exterior é bem mais profundo do que se imagina e nada fácil, é nessa relação única que são criadas as “ações físicas”, nós atuantes temos que internalizar e entender de uma vez por todas que não se faz arte sem o que corresponde internamente. Porém, entender como tudo isso se forma em ações físicas é muito difícil, por esse motivo que é preciso muito estudo e prática. Na busca pelas ações físicas ou os sintomas dessas ações, eu senti uma força que veio de Mamãe Oxun provocada pela música, essa força levou-me ao caminho para fim e recomeço.
Ser artista é ser generoso, entregar-se profundamente, ter disciplina e trabalhar muito. Assim por fim quero agradecer a generosidade, dedicação e paciência da Silmara Silva como pessoa e atriz diante essa troca, minhas sensações são de muita Gratidão. Que continuemos trabalhando, Evoé!
10.12.2020
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Por Walba Soares
Ator
De início do processo, tudo parte de um controle, limpeza e conscientização da respiração, de forma que todo ação possa ser gerada de maneira fluente. Seguindo para um ponto de energia específico e levando a mesma para a parte tórax da coluna, isso me desperta e me desafia a procurar esse ponto. Esse eixo central ao longo do trabalho será delineado ao longo de todo o desenvolver do trabalho, com atenção e equilíbrio para o que virá pela frente. A proposta seguinte parte de um exercício “QUI”, que deverá ser executado numa postura “fetal”, testa tocando o chão, corpo inclinado e sobre as pernas e braços de lado e soltos, sempre sem tencionamentos dos membros. Partindo disso é feito e pronunciado repetidas vezes esse “QUI” de forma grave, levando a intenções, a um estado de limpeza, foco na respiração torácica, intensidade, variações, sentimentos... Enfim uma experiência incrível de possibilidades e transcendental desse corpo alinhada à respiração. Faz-me sentir múltiplas sensações à medida que era executado e perceber como esse som é transmitido e que vaza para todo o corpo, que projeta sensações, “subtextos”, etc. Indo para a execução das cenas depois da primeira parte, a sensação é de consciência, tranqüilidade e energia aflorada. O controle consciente dessa respiração é base para cada uma das “cenas” até o final do “espetáculo” com energia suficiente, sem esgotamento ou desgaste desnecessário. Chego à parte seguinte do processo cênico-funcional para etapa do jogo da improvisação, alinhado com o que foi trabalhado anteriormente, em que é proposto junto ao (frescobol) contar uma história a partir do tema sugerido sem deixar a bola cair, buscando possibilidades possíveis. Trabalho este que me exige concentração, limpeza da mente e estar presentificado. Um jogo que me permite contracenar mesmo sozinho em cena com o outro e comigo mesmo. Um trabalho sempre complexo lidar com o improviso, de estar em constante inquietação, em estado de desconforto e vigilância de si em cena. A última parte deste processo é a “dança pessoal” em que a proposta será desenvolver e criar ações físicas orgânicas. Meu caminho parte de me conectar ao espaço, me auto observando por dentro e deixando que o “mantra” dado como estímulo possa me preencher de forma que meu corpo entenda e transmita exteriormente. Num primeiro momento isso é confuso, me bloqueia até o ponto em que eu passo a fazer o corpo, o espaço, sentimentos se interligar.
Descrevo como um trabalho desafiador, integral, que requer um estudo e aprofundamento, para poder apropriar-se disso de formar autêntica e verdadeira. GRATIDÃO!
10.12.2020
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Por Deusa Sofia
Atriz
Nesse sexto encontro me senti animada e disposta, com vontade de fazer e feliz em estar fazendo. Logo no início buscamos respirar e presentificar como sempre, buscando dessa vez, pensar na região torácica do corpo.
Experimentamos o vocalise "ki" exercício na postura da criança do Yoga. Senti em algum momento que minha voz me hipnotizava, tanto o som quanto a vibração dentro da cabeça. Tudo ficou vermelho na minha visão, não consegui ouvir meus colegas e a voz parece que não saía de mim e sim do meu coração. Eu estava numa floresta, sozinha. Só notei quando terminei que durante o processo chorei e babei muito.
Fui mais feliz hoje no cumprimento das cenas mas me preocupei muito com a coluna me distraí em decorar os vocalises.
No exercício de fresco ball observei com atenção como fez Adriano e mesmo com pouca luz entendi de alguma forma como manter a bola ali. O improviso foi provocado pelos colegas e individual, o que tornou ainda mais desafiador e envolvente. É sempre bom ver o que sai do pensamento do outro em situações assim.
No momento final e de criação, a condução da criação de uma ação fisica foi proposto tendo como elemento gatilho um mantra. Na hora me lembrei do processo do prólogo do Sonata de Amores, não e busquei trabalhar algum arquétipo sem pensar muito, experimentando o que vinha.
Me ocorreu rezar e ver o que essa oração me dizia no corpo. A oração foi "Assim na Terra como no céu", eu aceitei o que pudesse vir se fosse da vontade divina, mesmo que não viesse um corpo.
Quando fui instigada a pensar que seria minha apresentação final, um tremor aconteceu, veio da planta dos pés até a garganta. Eu queria entregar tudo. Mas foi complicado: quando eu ia, ia demais e a respiração ficava difícil e eu não entrava no apoio.
Quando fui provocada a pensar na minha morte, eu me vi morrendo na minha última apresentação e foi lindo e triste. Mas era como se fosse certo e eu não me senti sozinha, como na prática do vocalise do início (ki). Vizualizei pessoas me esperando, me apoiando...
Eu senti alegria, porque apesar de triste era bonito morrer assim.
Tive dificuldade em fixar os movimentos da partitura e cada um deles estavam me levando pra um lugar emocional diferente sempre que surgiam.
Sinto um tremor no corpo todo até agora.
10.12.2020
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Por Luciano Melo
Ator
INTEGRALIDADE – uma meta do artista. E para o artista de teatro é fundamental para o trabalho performático. Corpo, voz, emoções, mente, tudo integrado para a expressão performática do ator. O ator é a materialidade de sua criação. A criação está na totalidade de si que se expõe aos expectadores.
Os trabalhos educativos para o desenvolvimento da arte do ator podem ser sintetizados na expressividade integral.
Primeiramente, os exercícios de respiração e plenificação do corpo. O foco de energia e respiração concentrado na região torácica da coluna. A partir disso, o corpo todo se rearranjava: o apoio do abdômen para o equilíbrio, o relaxamento dos braços, as pernas apoiadas e sustentando um corpo em estado de prontidão para as ações, a atenção redobrada, tudo em estado a serviço da criação.
Exercícios de alongamento associados com uma respiração que ampliam as possibilidade do todo físico, emocional e espiritual do atuante. Uma sensação de plenitude vivificante: tudo na minha integralidade vivo e disponível para os exercícios propostos. E, ao mesmo tempo, uma consciência que observa, corrige e grava em alguma modalidade de memória tudo o que está sendo vivido. A arte do ator como uma experimentação plena consigo voltada para a expressão que comunica aos outros.
Depois, os exercícios de energia, equilíbrio, extensão corpóreo-vocal... Tudo sob a consciência vivencial do atuante. Este coordena os três atos de exercícios corpóreo-respiratórios (os atos organizam cinco modalidade de exercícios feitos em sequência). A consciência vivencial do atuante amplia a intensidade, estimula a respiração, explora suas possibilidades de equilíbrio, exercita a atenção, disponibiliza-se para ampliar as possibilidades corpóreo-respiratórias.
Um atuante precisa de um corpo forte (resistência aeróbica, potência energética, respiração instauradora do equilíbrio entre resistência e potência). Como uma partitura de um espetáculo, o atuante necessita de resistência para sustentar com vivacidade e verdades todo um espetáculo. Do mesmo modo, precisa empregar sua potência energética para vivenciar momentos mais fortes do espetáculo. E, em todo o decorrer do espetáculo, precisa conduzir seu trabalho como um maestro – a respiração garante equilíbrio e atenção inspiradores.
O exercício de improvisação com a raquete e bola. A bola estimula o trabalho de improvisação. Um tema é dado pelo colega e ao envolver-se com a raquete e a bola, o atuante é provocado a criar. Uma criação pela entrega e envolvimento. Uma atenção intuitiva que amplia à medida que a dedicação do ator é ampliada. Basta fazer pela entrega integral.
Por fim, a exploração das ações físicas. Sob o estímulo de um mantra, os atuantes foram estimulados a criar uma partitura integrada de quatro ações físicas. Ouvir o mantra. Sentir o espaço, sua respiração, as pernas e seus apoios sobre o chão, a noite que nos abraça e o mantra estimulando o ato de criar. Sem pressa. Sem querer resolver racionalmente. Apenas a integralidade do ator em ação. Ação física precisa expressar uma vontade interior (não se confunde ação física com movimento ou um simples gesto). É uma célula de expressão criativa do ator que comunica.
Assim, uma intencionalidade interior vai sendo construída pouco a pouco em integração com o mantra, as explorações corporais, a respiração, as emoções... um primeiro rabisco de ação física... exploração desse germe de criação... tudo se integrando... daquela ação parte-se para outra... percebe-se suas possibilidades... vive-se plenamente... mais outra ação... o corpo já está em outro estado... a respiração também... uma partitura de emoções e intenções vão tomando conta do trabalho... o todo do ator vai se transformando pelo envolvimento com as ações físicas em estruturação... sugestão de “contenção”... “desafie-se a explorar o espaço”... “doe para a plateia”... essas orientações externas vão, pouco a pouco, sendo incorporados ao trabalho... as ações físicas vão se tornando orgânicas e plenas para o ator que experimenta e cria...
A integralidade do ator é a chave.
10.12.2020
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