A Minoria Dentre as Minorias
(Micro Ensaio Sobre a Busca de Luz)
“Não sou feliz, mas não sou
mudo:
hoje eu canto muito mais.”
hoje eu canto muito mais.”
Belchior
As artes cênicas, como toda e qualquer atividade humana
produtiva, carecem de profundidades, luzes e reflexões, como uma nau a navegar
cautelosamente entre arrecifes, nos propomos a encarar a cerração. No
microcosmo “Expressões Cênicas
Piauienses” coexistem motivações, comportamentos e visões diferentes.
Alguns tentam impor esdrúxulos pensamentos, fazeres e ações para o
conjunto dos artistas da cena e para própria sociedade. Esta prática é comum,
em parte significativa daqueles homens e mulheres que assumem fanática e
irrefletidamente, gozando no genérico e escorregadio auto rótulo do ser
contemporâneo. Evidente que existem produtos de valor nessa seara, todavia,
sobram obtusidades e produtos que de arte só possuem o desejo dos
idealizadores.
A grande maioria, dos nossos colegas da cena, são preguiçosos ou
conformados demais para verticalizar estudos e pesquisas que conduzam a algum
horizonte. Sobrevivem na superfície dos atos cênicos, a cata de inclusão no mundo da arte, ou em geral, na luta
inglória por meia dúzia de trocados. Muitos limitam-se a não fazer praticamente
nada, realizando de quando em vez, migalhas artísticas, na doce ilusão da pomposa denominação de artista.
Neste minúsculo e, paradoxalmente, vasto cenário coexistem ainda aqueles
que se esforçam, esquizofrenicamente, pelo reconhecimento, traduzido em falsos
e vazios elogios da “classe artística” ou de um público, muitas vezes de gosto
adulterado. Pobres criaturas que sobrevivem em estado manicomial e, por mais
incrível que pareça, são considerados por muitos incautos como
os verdadeiros artistas desse rincão.
Poucos, bem poucos, guerreiam para agregar alguma essência aos seus atos
cênicos e, consequentemente, as suas vidas. Enxergo o Coletivo Piauhy Estúdio
das Artes nessa trincheira, A Minoria
Dentre as Minorias, um grupo reduzido de artistas que não se encantou pelo
canto das sereias da ilusão, inércia, conformismo e desespero. Fazemos parte de
uma categoria que é taxada de caretas, mas também, de arrogantes, certinhos demais
e difíceis, ultrapassados para alguns e vanguarda para muitos. Sei que trazemos
entranhado no nosso modus faciend
características de cada uma dessas faces que habitam as cênicas no nosso
“longínquo” território, porém, é correto afirmar, a luta é diária para nos
afastar daquilo que não nos serve como farol, até porque, na plenitude da
escuridão só é possível aprofundar a mais absoluta treva, e é necessário
encontrar um pouco de luz para que não atrofiemos o olhar.
Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy Estúdio das
Artes (fim da estação das águas do ano de 2015)
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