Foto: Ana Cândida Carvalho
Me senti profundamente tocado pelo que vi. Acho que Silmara canalizou muito bem a aura forte de Medeia em seu corpo, que, sendo o corpo de uma mulher jovem e de estatura relativamente pequena, de repente se agiganta no palco pela força expressiva e a beleza dos movimentos, que para mim, particularmente, é onde está sintetizada toda a teatralidade deste espetáculo. É nítida a coreografia, a exploração consciente do espaço esteticamente. O texto funciona, mas para mim, o que ele causa na atriz, que está entregue, absorta, “com a alma em carne viva”, é muito maior que o próprio texto, é a concretização da linguagem, por que causa em mim também. Por um momento senti que se eu tampasse os ouvidos, e apenas observasse atentamente o gestual de Silmara e captasse a energia emitida por seu corpo, eu seria capaz de entender cada palavra, mesmo sem ouvi-las. A organização dos movimentos dentro dessa caprichada estrutura estética foi uma grande sacada no sentido de nos remeter a uma atmosfera clássica, onde a elegância, mesmo no apogeu de uma terrível tragédia, era sempre indispensável. A força de espírito dessa mulher/anjo/demônio também é enfatizada pela qualidade dos movimentos. O fato desafiador de Silmara/Medeia sentar-se sempre de pernas abertas para a platéia é um elemento perturbador, pois há uma bela mulher de pernas abertas em minha direção, mas o poder de sua presença é tão grande que eu “tenho medo de olhá-la”. Por que não está ali uma mulher comum. Está ali a filha de Hécate, a mão capaz de assassinar aos próprios filhos. A magia, o regresso aos tempos ancestrais onde predominava o pensamento místico, isso foi caracterizado para mim, entre outras coisas, nas figuras geométricas simples, apenas linhas paralelas, formadas pelas cordas esticadas no cenário. Imediatamente associei essa imagem à TEORIA DAS CORDAS, segundo a qual o universo está dividido em dez dimensões, como dez cordas esticadas paralelamente, sendo que uma delas é a residência de Deus (o céu), e que ele, por ser Deus, consegue mover-se por todas as dez dimensões apenas vibrando as “cordas”. Enfim, tenho pouco embasamento teórico-estético, e não vou ficar aqui bancando o crítico de arte, o que definitivamente não sou. Queria apenas manifestar as minhas impressões sobre mais este belo trabalho do talentoso grupo de artistas do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes, coordenado por Adriano Abreu. Meus parabéns especialmente a essa dupla, esse casal que está dando tão bons frutos ao teatro piauiense, Silmara e Adriano.
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