Apologia a Aceitação
“Sim, para mim o teatro é um grande mistério,
um mistério no qual se acham maravilhosamente
unidos os dois fenômenos eternos,
o sonho da Perfeição e o sonho do Eterno.
Somente a um teatro assim vale a pena a gente dar a vida.”
Richard Boleslavski
Nunca comporte-se como o artista medíocre que vive, como os
cães, à cata de elogios na lata de lixo de futilidades promovidas por pessoas
incautas habitantes da nossa nobre arte. O Teatro que realizas deve trazer a
marca da essencialidade humana, se procurares apenas apaziguar seu ego voraz
com bajulações, quase sempre hipócritas, o Teatro autêntico não será seu lugar.
Procure a rudeza dos campos de combate que a vida na cena vai lhe proporcionar
e aceite, simplesmente, que precisa
melhorar, aprender de fato, tornar suas ações teatrais reflexo de algo muito
maior que você é como persona. Caso contrário, economize seus esforços,
pateticamente empregados, na sua auto promoção. Pois a realidade é que, dessa
forma, o seu lucro será uma carga enorme de ilusões.
Aos poucos atuantes (atores e
atrizes) que ainda buscam a sublimação, através dessa estrada redentora que
poderá ser o teatro, cabe um alerta: evite a indolência antes de mais nada e,
mais que isto, repudie uma suposta criticidade, defendida aguerridamente como
virtude, sua revolta não é lírica e tão pouco dramática, apenas atrapalha o
tempo das coisas. Essa chama, cultuada com fervor, não passa de sintoma do seu
despreparo, aceite suas limitações e
não se esconda sob um véu de diálogos intermináveis e banais fingindo
fortaleza. Estrebuchando-se dessa maneira, expõe de forma inequívoca, essa tola
necessidade de projeção, todavia, os Palcos da transparência não são locais
para tais manifestações. Saiba que tens sido vítima de uma prática heroica, mas
de pouco estudo e quase nenhuma disciplina e isso não é culpa de ninguém,
portanto, sua humildade ou desespero é que escreverão nas páginas da sua
história sua evolução ou degradação.
Aos meus colegas de ofício, os diretores e encenadores, convido a aceitação do ato de dirigir espetáculos
e, sobretudo pessoas, como atitude amorosa de um ser distribuidor de dádivas,
acima de qualquer coisa, sem a necessidade de outras medidas recompensatórias,
exceto o salário devido. Pela busca insana de reconhecimento quantos de nós
enlouqueceram tornando-se homens e mulheres abjetos? O trabalho de dirigir é extremamente
solitário, muitas vezes nos tornamos egocêntricos, e consequentemente existe
uma probabilidade considerável de nos tornarmos egoístas e ditadores, a única
medida possível, como antídoto para tal situação, é o compartilhamento do
conhecimento que acumulamos por exigência da profissão. Aceitemos, sem restrições: tudo
que fizermos deverá ser em nome da libertação.
Para todos os artistas das cênicas
reitero, aceitar as nossas sombras é
caminho obrigatório para que luz brote desse acolhimento. A sensação da perda
ou da glória em uma vida na arte só existem para nos lembrar: a
sabedoria para ser alcançada exige, paradoxalmente, uma atitude de espera e
esperar, é a própria aceitação. No
entanto caminhemos...
Para mim mesmo
Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy estúdio das Artes
Outubro 2014
Para nós todos.
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