sábado, 1 de junho de 2013

Revolucione-Se

                                          Foto: Vitor Sampaio



             Revolucione-Se

“As pessoas mudam e revelam-se na ação”.
do amor e da dor nos tempos eternos.”

 “Exercício Sobre Medéia”



           Meu filho de 14 anos falava entre o irônico e o desapontado que eu tinha acabado com seus sonhos quando disse que nenhuma música era revolucionária a ponto de mudar o mundo. Não falei toda verdade, aliás, essa conversa entre eu e ele, motivou este artigo.
           Nenhuma arte é capaz de modificar ou criar as circunstâncias históricas que possibilitam a transformação radical da sociedade, ou seja, promover revoluções. A utopia Artaudiana de um teatro que promovesse situações francamente revolucionarias (teatro como a peste) mostrou-se sonho do paraíso perdido. O correto é que as manifestações artísticas e seus executores, os artistas, são vítimas e, paralelamente, algozes do seu tempo. Contudo, aparentemente (só aparentemente), os construtores culturais, desenvolvem tal multiplicidade de influências que, paradoxalmente, rompem fronteiras do tempo-espaço. Na minha aldeia, Teresina, Chapada dos Raios, existem coletivos e pessoas realizadores de proposições teatrais referentes aos séculos XIX, XX e XXI, concomitantemente. A perspectiva em questão pode perfeitamente estender-se as outras artes. Outro dia, apreciava um show de música pop dos anos 80, realizado por um artista que iniciou sua produção cultural nos anos 2000, com um público que acreditava, timidamente, que o show vivenciado era novo, mas não era. O artista mostrava canções possivelmente relevantes há trinta anos atrás. Hoje o que dizer?  Certas coisas não são possíveis maquiar, mesmo nas redes a-sociais. Portanto, podem conviver artes de diferentes momentos históricos numa mesma época, alguns, afirmam que essa peculiaridade é privilégio da propalada contemporaneidade, eu discordo, creio apenas em cosmo visões (ideologicamente construídas), percepções e sensos estéticos diversos habitando o mesmo momento histórico.      
             Todavia, a reflexão é outra, nossa motivação diz respeito à propriedade revolucionária da arte. Revoluções, geralmente, são realizadas por jovens “guiados” por adultos impregnados de objetivos nem sempre altruístas. Desconfio de todas as ações, mesmo na produção cultural, ditas rebeldes ou revolucionárias. Conheço um grupo, habitante da mesma província minha, que realiza trabalhos esgotados na Europa do século vinte, vendido como produção cultural absolutamente radical, questionadora com potencial de mudança, a coisa tem pegado como chiclete no cabelo, alguns já diluem a diluída proposição desse coletivo, quanta fragilidade cultural. Acredite quem quiser, não sou mais tão ingênuo, para mim, tal manifestação artística não passa de escolho com conteúdo conservador, alienante e dominador, por sua vez, não revolucionário.
             O problema do meu filho, no entanto, é real, portanto merece elucidação. Se existe revolução (mudança radical) ela sempre ocorre de dentro para fora, se houver predisposição do sujeito para mudança, através de um processo lento e progressivo, que envolve incontáveis possibilidades e reflexões embasadas nos valores individuais relacionando-se no tempo-espaço sócio-cultural. Uma canção, um espetáculo teatral, uma obra de audiovisual pode servir de “estímulo” para essa reflexão, porém, sozinha, por mais bem elaborada que seja a obra de arte, dificilmente provocará significativas transformações. O que ocorre é que por um profundo comprometimento individual alguns artistas conseguem, através de poderoso poder de divulgação e empatia (alguns dizem sucesso), estimular, e muito, determinado período e conjunto de indivíduos,  de forma estereotipada e superficial seus seguidores, daí dizer que mudaram pessoas, ou ainda, revolucionaram a sociedade seria sofisma. Quantos indivíduos que se vestem como o Raul Seixas gostariam de viver na “Sociedade Alternativa”? Será que entenderam os objetivos do artista? Quantos diretores ditos “Grotowskianos”, “Brechinianos”, “Stanislavskianos”, leram e, compreenderam seus escritos espetáculos e propostas? Creio que se tivessem compreendido não se declarariam discípulos desses mestres, até porque suas buscas pessoais são irrepetíveis, devido às condições peculiares de suas descobertas.
        O Poeta Paulo Machado afirma que a poesia “é torpedo suicida”. Acredito nesse verso, faço arte por que creio na mudança, mas aprendi: “As pessoas mudam e revelam-se na ação do amor e da dor nos tempos eternos”.


Adriano Abreu
Diretor do Piauhy Estúdio das Artes

            


            (Dedicado aos atores do Ciclo de Leituras Dramáticas 2013)