quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Relações Íntimas com o Teatro




Relações Íntimas no Teatro


“Metáforas são perigosas.
O amor começa com uma metáfora...”

Milan Kundera


         Tempo de relações flúidas, hedonistas e exibicionismo. Onde as pessoas até se fodem (foder significa também não dar importância), mas não se amam e nem sequer se comem (comer pressupõe alimentar-se) perambulam pelos caminhos, vazias. Nossas Relações Íntimas com o Teatro seguem a mesma lógica.
          Falava, sempre falo o que não devo, para um ator angustiado prestes a decolar para uma apresentação: “- Paz! O sucesso vem atrás.” Ele sorriu entredentes e respondeu: “- É o que estou precisando.” O quê dizer sem parecer arrogante e pretensioso? “ – Você irmão está pisando com suas botas em seu próprio pescoço.” Não falei nada, ainda bem.
         Consumar o ato amoroso com o teatro, como um bom amante, traduz-se em  plenitude. Embebidos no instante do fazer artístico, movidos pelo prazer compartilhado e sublimes sensações nos transportamos para um universo paralelo divino, sem axiomas ou meias verdades. Nós artistas sabemos tudo sobre meias verdades.
          Culpas, mágoas, medos, muitas vezes nos tornam impotentes para amalgamarmo-nos com o teatro. Egoísmo, tolas vaidades,  ilusões românticas de fama (o sucesso é sempre um deus egoísta), racionalismos piegas apenas transformam  nossas ligações intimas com a arte em atos robóticos e, consequentemente, frustrantes. Orgasmos sem afetos são bolhas de sabão. Todas as ilusões se esvaem como a neblina ao chegar dos primeiros raios de sol. Por que construir escadas para o vazio interior? Construamos pontes para luz. Conhecer e entregar-se. (Re)Descobrir amorosa e intensamente  “a dimensão orgânica do gozo” teatral. Do ritual.
          Ser feliz com minhas opções estéticas, desejando e fazendo sempre o melhor, o bem feito. Existir e fazer com que o outro exista na vida e na cena. Albert Camus  traduz o sentimento do precário em frase : “O homem é a única criatura  que se recusa a ser  o que ele é.”
           Amar e ser amado na e pela arte, o que mais um artista pode querer? Exige autenticidade e desprendimento. Os grandes e pequenos momentos tomarão conta do resto. O sentimento é tudo Aliás, nada mais demodê do que relações íntimas casuais. O teatro é um amante  fiel, saboroso, sobretudo, exigente. Sólido como uma nuvem e líquido como um diamante.




(Este ensaio dedico a atriz Edite Rosa singela e equânime como uma legítima Rainha Nagô)



Adriano Abreu
É Diretor do Piauhy: Estúdio das Artes.