O Medo Paralisante da
Crítica
(O Corajoso Compromisso
do Atuante Iluminado)
Ninguém é obrigado a fazer Teatro. Fortalecido
por convicções muito fortes, considero que muitos indivíduos deveriam, sem
remorsos, eximir-se dessa atividade humana tão prazerosa, porém, exigente de
dedicação, disciplina e sacrifícios. Todavia, se o seu espírito inclina-se de maneira
irrefreável para o ofício cênico, realize-o com o primor dos mestres e, pleno
das motivações corretas, caso contrário, pela força do tempo que sempre revela
todas as contradições, você poderá tornar-se um estorvo para a arte teatral e
criar imensos problemas para si mesmo.
Todos os artistas da cena estão
sujeitos a crises e situações difíceis durante a vida profissional. O ambiente
que circunda a nossa arte está repleto de muitas energias, algumas extremamente benéficas e outras abjetas. A
conscientização da influência dessas forças
no processo criativo, para os atuantes, é essencial na diminuição do
impacto negativo que algumas delas exercem sobre o produto final do trabalho, o
espetáculo. Este ensaio visa contribuir para minoração do efeito destrutivo de
uma das mais poderosas influencias energéticas que atores e atrizes enfrentam: “O Medo Paralisante da Crítica”.
Antes mesmo de entrarem em cena,
alguns atuantes, literalmente congelam com o pavor de um possível julgamento contrário as suas aspirações, é como se
o ato teatral fosse um crime digno de culpa ou absolvição. Absolutamente pueril
e de certa forma irracional, tais comportamentos e sentimentos não são
resolvidos num passe de mágica. Grande parte de nossas vidas na arte passamos criticando, as vezes ferozmente, as
manifestações cênicas que consumimos. O efeito dessa prática recorrente,
volta-se contra nós mesmos, então começamos a internalizar um certo pavor da não aceitação do nosso trabalho
e, consequentemente, das nossas personas.
A vontade de atuar, confunde-se, em um grande número de casos, com a
necessidade de ser amado, essa necessidade, na cabeça do artista, significa ter
a aprovação (de preferência verbalizada) da nem sempre justa classe teatral em primeiro lugar (alguns forçam a aprovação e se comprazem nela), dos
parentes e amigos em segundo plano, estranhamente,
em último lugar, do anônimo público
pagante.
Vítimas de vaidade aguda ou
baixa estima crônica, no momento do comentário, indicativo do suposto fracasso,
apontado por um “colega do teatro”,
alguns pensam em desistir do ofício, outros passam anos sem executar nenhuma
proposta mais relevante em virtude do terror
da crítica e passam a vida murmurar a eminente
desgraça pelo mundo afora.
Existe remédio para este mau? Como
livrar-se da doentia dependência do elogio dos colegas de ofício, em muitos
casos, como sabemos, hipócrita? Qual a cura da esquizofrênica necessidade de “arrasar” e ser reverenciado no cenário teatral no qual habitamos? A
pergunta para todas essas questões resume-se em única palavra: ESTUDO.
Quando estudamos compreendemos que o universo do teatro é bem maior que uma
confraria de comadres ou um poleiro de pavões. O ato de estudar nos qualifica a
entender que qualquer perspectiva cênica,
inclusive a nossa (as vezes enxergamos tudo, menos o nosso umbigo), é passível
de sucessos e fracassos e que ambos, são temporários, aparentes e relativos.
Compreendemos, ao aprofundar o conhecimento, que fundamentar aquilo que
realizamos torna-se nosso escudo contra malfadadas críticas, proporcionando-nos
maturidade para aceita-las e, até incorporá-las, ao nosso aperfeiçoamento
quando construtivas (aliás elas também existem). O comprometimento com nossa
arte passa, invariavelmente, pela condição permanente de aprendiz e por uma
dose ilimitada de coragem.
Portadores dessa valentia percorreremos nosso caminho, enfrentando derrotas, as vezes mais valiosas que
vitórias, as duas, certamente transitórias. Caminhemos destemidamente, com um
sorriso nos lábios como quem diz: “- A
luz que plantei em mim inundou a minha arte e, esta fonte, jamais se
extinguirá."
Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes
Teresina- Piauhy
Agosto 2014
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