terça-feira, 16 de setembro de 2014

                            

Dissipando Névoas de Incertezas

(Notas Sobre a Arte do Atuante e Outras Coisas Não Menos Importantes)

         A densa névoa que cobria a cidade de Guaramiranga, Estado do Ceará, naquele oito de setembro, fez com que eu rememorasse os movimentos do passado que tinham me posto ali, naquele momento contemplativo no Maciço do Baturité.
         Entre os anos de 2004 e 2008 não fiz teatro.  Vinha de uma longa jornada de quase quinze anos de intensa atividade teatral nebulosa de incompreensões, lacunas e injustiças. Protegido pelas serras da poesia tinha decidido que não iria mas fazer teatro. Assim vivi, até que o calor das mofadas salas de ensaio me empurraram, novamente, para os tablados.
          2009 foi um ano de completa neblina. Divisava apenas três atuantes muito distante daquilo que chamamos “artista criador”, além disso, encaramos uma cidade que não só nos ignorava, fazia pouco caso do próprio teatro que realizava, esquecendo-se das grandes glórias de outrora, enquanto ria abobalhadamente na nossa frente e nas nossas costas. Eram comuns comentários jocosos de toda ordem: “- O atuante como núcleo essencial do trabalho cênico? Sei (rsrs) Atuante... (kkkk)” “- Ave Maria! Dois anos para montar um espetáculo... Deus me livre, é muito saco.” “- Vocês ensaiam demais e ninguém vê essas peças...(rsrsss).” “-Não sei pra que esse negócio de tanta pesquisa... Não vejo resultado.”
           2011 fez nascer o espetáculo “O Rouxinol e a Rosa”, que poderia ter caminhado mais, porém, pra um ou outro indivíduo é sempre difícil circular em meio a tanta nebulosidade, principalmente quando procuramos frutos e só encontramos sementes. O trabalho árduo na nossa arte tem dupla função: 1º nos mantêm vivos e qualificados, 2º expulsa os casuístas, iludidos e oportunistas e, as vezes, uma dissenção que parece trágica é uma bênção. Dois anos depois em meio a uma chuva de sol surgiram “FOGO” e “Exercício Sobre Medeia” e os comentários agora são outros... Quanto a nós? Aprendemos que apostar firmemente em um “corpo vivo que não mente em situação de representação” valeu como um lume na cerração, contudo, sabemos que o dia demora a clarear e a noite ainda é espessa, mas caminhar nessa madrugada já não nos amedronta tanto.
            Dia 9 de setembro de 2014, 19:15min, 21º Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, protagonizamos uma participação vulcânica do espetáculo “FOGO”, abençoados por todas as divindades do teatro que habitam aquelas montanhas uma vez a cada ano e,  guardados por quatro policiais do corpo de bombeiros, que serviram para engrossar o coro de espectadores que superlotaram a área de convivência da Escola Municipal Professor Júlio Holanda, cumprimos a meta, cometendo poucos erros e, convictos, que tínhamos vencido a neblina para que o dia amanhecesse límpido e caloroso para nós do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes. O debate convocado oficialmente para a manhã seguinte começou de fato na noite da apresentação, regado a duas garrafas de vinho e, a alegria contagiante de Rogério Ferraz, ator e diretor do Grupo Estação do Rio Grande Norte. O debate, agora com todo cerimonial, aconteceu em 10 de setembro, exatamente as 10:00h, na sala 1 do Mosteiro dos Capuchinhos, onde ouvimos de forma irrefutável, na fala dos 3 debatedores (Luiz Alonso Aude, Wilson Coêlho e Makarios Maia Barbosa) que o espetáculo “FOGO” era universal e que o corpo cênico dos atuantes era vivo e em chamas e que uma ou outra coisa precisaria avançar, na nossa opinião colocações relativas ao senso estético dos debatedores. Contudo, naquilo que tínhamos investido, o trabalho de atuação e a universalização da linguagem, o resultado fora plenamente satisfatório.
                  Abrirei um pequeno parenteses ao amigo Caio Padilha (Grupo estação), que fez pequenas referências críticas a concessões estéticas realizadas por nós, ressalvo de forma consciente, em detrimento do padrão vibratório a ser alcançado e mantido pelos atores e pela atriz, descobertas feitas no trabalho empírico do Coletivo, mantidas por opção do elenco, portanto, consideramos um preço não muito caro a pagar pelo que nos propomos a oferecer, um teatro de cura. Aliás, o seu cantar, nos fez honrados.
          Nossos olhos e ouvidos jamais estarão fechados, as contribuições de Wilson Coêlho e Makarios Maia (O Brincalhão Contumaz). Quanto a Luís Alonso (oco teatro laboratório), irmão em armas, sua dedicação, seriedade e amor ao teatro nos inspira. A Renatta Lima, Vanildo Franco, toda Coordenação e Técnicos do 21º FNT a vida com vocês ficou bem mais fácil aí na serra. Ao pessoal da Cia Dionísio (IFCE)/Capricórnio Produções e Quimeras de Teatro “a alegria é a prova dos nove”, Marcelo Flecha um dia, “caindo dos céus”, faremos uma visita para vocês da Pequena Companhia de Teatro, então retribuiremos prazerosamente tão valorosa assistência. O Coletivo Piauhy Estúdio Artes Dissipando Névoas de Incertezas continuará sua faina de artistas brasileiros. Evoé.
Outra Nota: O cadeado nas portas do Teatro Rachel de Queiroz também é cerração, mais aí já é outra história...

Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes

Teresina- Piauí
 Setembro de 2014

   
            



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