Dissipando Névoas de
Incertezas
(Notas Sobre a Arte
do Atuante e Outras Coisas Não Menos Importantes)
A densa névoa que cobria a cidade de Guaramiranga,
Estado do Ceará, naquele oito de setembro, fez com que eu rememorasse os
movimentos do passado que tinham me posto ali, naquele momento contemplativo no
Maciço do Baturité.
Entre os anos de 2004 e 2008 não fiz
teatro. Vinha de uma longa jornada de quase
quinze anos de intensa atividade teatral nebulosa de incompreensões, lacunas e
injustiças. Protegido pelas serras da poesia tinha decidido que não iria mas
fazer teatro. Assim vivi, até que o calor das mofadas salas de ensaio me empurraram,
novamente, para os tablados.
2009 foi um ano de completa neblina.
Divisava apenas três atuantes muito distante daquilo que chamamos “artista criador”, além disso, encaramos
uma cidade que não só nos ignorava, fazia pouco caso do próprio teatro que realizava, esquecendo-se das grandes glórias de outrora, enquanto ria
abobalhadamente na nossa frente e nas nossas costas. Eram comuns comentários
jocosos de toda ordem: “- O atuante como
núcleo essencial do trabalho cênico? Sei (rsrs) Atuante... (kkkk)” “- Ave
Maria! Dois anos para montar um espetáculo... Deus me livre, é muito saco.” “-
Vocês ensaiam demais e ninguém vê essas peças...(rsrsss).” “-Não sei pra que
esse negócio de tanta pesquisa... Não vejo resultado.”
2011 fez nascer o espetáculo “O Rouxinol e a Rosa”, que poderia ter
caminhado mais, porém, pra um ou outro indivíduo é sempre difícil circular em meio a tanta nebulosidade,
principalmente quando procuramos frutos e só encontramos sementes. O trabalho
árduo na nossa arte tem dupla função: 1º nos mantêm vivos e qualificados, 2º
expulsa os casuístas, iludidos e oportunistas e, as vezes, uma dissenção que
parece trágica é uma bênção. Dois anos depois em meio a uma chuva de sol surgiram “FOGO” e “Exercício Sobre Medeia” e os comentários agora são outros... Quanto
a nós? Aprendemos que apostar firmemente em um “corpo vivo que não mente em situação de representação” valeu como
um lume na cerração, contudo, sabemos que o dia demora a clarear e a noite
ainda é espessa, mas caminhar nessa madrugada já não nos amedronta tanto.
Dia 9 de setembro de 2014,
19:15min, 21º Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, protagonizamos uma
participação vulcânica do espetáculo
“FOGO”, abençoados por todas as divindades do teatro que habitam aquelas
montanhas uma vez a cada ano e, guardados por quatro policiais do corpo de
bombeiros, que serviram para engrossar o coro de espectadores que superlotaram
a área de convivência da Escola Municipal Professor Júlio Holanda, cumprimos a meta, cometendo poucos
erros e, convictos, que tínhamos vencido a neblina para que o dia
amanhecesse límpido e caloroso para nós do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes. O
debate convocado oficialmente para a manhã seguinte começou de fato na noite da
apresentação, regado a duas garrafas de vinho e, a alegria contagiante de Rogério
Ferraz, ator e diretor do Grupo Estação do
Rio Grande Norte. O debate, agora com todo cerimonial, aconteceu em 10 de
setembro, exatamente as 10:00h, na sala 1 do Mosteiro dos Capuchinhos, onde
ouvimos de forma irrefutável, na fala dos 3 debatedores (Luiz Alonso Aude,
Wilson Coêlho e Makarios Maia Barbosa) que o espetáculo “FOGO” era universal e que o corpo cênico dos atuantes era vivo e em
chamas e que uma ou outra coisa precisaria avançar, na nossa opinião colocações relativas ao senso
estético dos debatedores. Contudo, naquilo que tínhamos investido, o trabalho
de atuação e a universalização da linguagem, o resultado fora plenamente
satisfatório.
Abrirei um pequeno parenteses ao amigo Caio Padilha (Grupo estação), que fez pequenas referências críticas
a concessões estéticas realizadas por nós, ressalvo de forma consciente, em detrimento
do padrão vibratório a ser alcançado e mantido pelos atores e pela atriz, descobertas feitas no trabalho empírico do Coletivo, mantidas por opção do elenco, portanto, consideramos um preço não muito caro a pagar pelo que nos propomos a oferecer,
um teatro de cura. Aliás, o seu
cantar, nos fez honrados.
Nossos olhos e ouvidos jamais
estarão fechados, as contribuições de Wilson Coêlho e Makarios Maia (O Brincalhão
Contumaz). Quanto a Luís Alonso (oco teatro laboratório), irmão em armas, sua dedicação,
seriedade e amor ao teatro nos inspira. A Renatta Lima, Vanildo Franco, toda
Coordenação e Técnicos do 21º FNT a vida com vocês ficou bem mais fácil aí na
serra. Ao pessoal da Cia Dionísio (IFCE)/Capricórnio Produções e Quimeras de
Teatro “a alegria é a prova dos nove”,
Marcelo Flecha um dia, “caindo dos céus”,
faremos uma visita para vocês da Pequena
Companhia de Teatro, então retribuiremos prazerosamente tão valorosa
assistência. O Coletivo Piauhy Estúdio Artes Dissipando Névoas de Incertezas
continuará sua faina de artistas brasileiros. Evoé.
Outra Nota: O cadeado nas portas do Teatro Rachel
de Queiroz também é cerração, mais aí já é outra história...
Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy Estúdio das
Artes
Teresina-
Piauí
Setembro de 2014
Não podia ter sido diferente. Vamos botar fogo nessa terra Adriano.
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