quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Cênico Funcional (treinamento para higiene do corpo voz)

Após o treinamento os Atuantes são convidados a produzir um texto reverberando todas as sensações acolhidas. Segue abaixo:


4° ENCONTRO

Por Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes

Funcional cênico (Uma viagem em busca da lavratura corpóreo-vocal)

                 Nos princípios norteadores do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes, especificamente do trabalho do atuante sobre si mesmo, encontramos uma série de competências e atitudes a serem conquistadas por atrizes, atores e performers que desenvolvem atividades artísticas no grupo, entre elas, estão em destaque as duas primeiras “Séries de Princípios Norteadores” do trabalho do grupo,  abaixo discriminados:

1ª Série Princípios Norteadores - Concentração das Forças Criativas:

Aceitação

Aguçamento Sensorial

Atordoamento

Corporificação da Mensagem (ator-verbo)

2ª Série Princípios Norteadores – Bailado do Atuante:

Trabalho de Lavratura Corpóreo Vocal

Trabalho Sobre a Equalização Espaço Temporal

Trabalho Sobre o Foco do Atuante e do Espectador

Trabalho Sobre o Ritmo

                 O treinamento “Cênico Funcional”, criado e desenvolvido pela atriz e educadora cênica Silmara Silva, propõe-se a ser mais uma ferramenta a disposição dos atores e atrizes que desenvolvem sua atividade nesse grupo criativo, no sentido de alcançarem padrões satisfatórios em aspectos fundamentais na construção de atuantes de alta-performance.  

                 Dessa forma, na figura de diretor-pedagogo do Coletivo, tenho acompanhado o desenvolvimento teórico dessa ação formativa, bem como, realizado na prática os encontros formativos orientados por Silmara Silva. Gostaria de ressaltar alguns dos incontáveis benefícios do “Cênico Funcional” enfatizando, mais uma vez, que essa pesquisa-experimento se configura como um passo importante na formatação metodológica de pontos essenciais que compõem os “Princípios Norteadores do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes”:

Respiração: 

         Exercícios respiratórios diversos, foram aplicados em todos encontros, estimulando e conscientizando os atuantes sobre a importância capital do domínio desse instrumento fundamental que é a consciência e domínio dos processos respiratórios, como também, fortalecimento do cardio respiratório, no sentido de afirmar e potencializar presenças cênicas, elevando exponencialmente o autoconhecimento, proporcionando o alicerce necessário para posterior domínio e manipulação energética utilizando a respiração como fator estruturante.

        Através do trabalho sobre a respiração que, é a base de todo treinamento “Cênico Funcional”, os atuantes alcançarão bases sólidas para novas conquistas.

Flexibilidade:

           Os exercícios de flexibilidade corpóreo-vocal são outra viga mestra da pesquisa-experimento desenvolvida por Silmara. Alongar a musculatura dos membros inferiores e posteriores, trabalhar a flexibilização da coluna e fortalecer as possibilidades vocais partindo da experiência do corpo, permitem ao atuante a ampliação e o destravamento das forças mentais, já que, a rigidez psicofísica prejudica estados satisfatórios da performance, ao contrário da flexibilidade que proporciona frescor e vida a atuação.  

Potência, velocidade, coordenação motora e precisão:

         No treinamento cênico funcional existem “circuitos” de exercícios corpóreo-vocais, que acontecem na segunda etapa do encontro, os “circuitos” ou “cenas” na linguagem da pesquisadora, estimulam o atuante o desenvolvimento de habilidades relacionadas ao desenvolvimento de potência muscular (incluindo os músculos responsáveis pela fonação), velocidade na realização de ações físicas, ampliação de possibilidades motoras e aquisição da precisão de movimentos. 

         Essa fase do treinamento exige do atuante resistência a fadiga, domínio das potências energéticas estudadas na primeira fase do treinamento, ou seja, o uso consciente da respiração, disciplina na realização de tarefas concretas e, outras questões pertinentes, a um futuro processo criativo frutificador. 

         As “Cenas (circuitos)” além dos benefícios citados anteriormente, possibilitam e potencializam uma espécie de “limpeza” no corpo dos participantes, retirando espasmos musculares e eliminando resistências corpóreos-vocais desnecessárias.

        Toda gama de exercícios e trabalhos dessa fase do “Cênico Funcional”, devem ser realizadas com um empenho de concentração, fator imprescindível no desenvolvimento das estratégias que facilitarão a execução das “cenas”, como também, uma das metas primordiais dessa fase é acrescentar uma consciência psicofísica progressiva.

Equilíbrio, ritmo, foco, exploração e compreensão espacial:

         Alguns exercícios especiais compõem a última fase do treinamento “Cênico Funcional”, tais exercícios visam desenvolver habilidades importantes no atuante. 

         Atividades diversas utilizando disco de equilíbrio, raquetes e bolas estimulam a busca ativa no desenvolvimento de competências que envolvem equilíbrio, ritmo e foco. Outras atividades e dinâmicas, envolvendo o domínio e exploração espacial, são propostas as atrizes, atores e performers no intuito da descoberta e superação de suas dificuldades na perfeita apropriação do espaço-tempo.

A dança pessoal:

         A última fase dessa ação formativa propõe o investimento dos participantes na conquista das ações físicas. Nesse momento, através de estímulos e desafios cênicos, exige-se dos atuantes uma vontade dinamizada. Conceitos como atordoamento e corporificação da mensagem, deverão ser traduzidos em partituras de ações físicas. Possibilitando o domínio espaço-temporal, dilatação corpóreo-vocal, estados vibráteis e demais potências exigidas no fenômeno teatral.

        O “Treinamento Cênico Funcional”, juntamente com a oficina “Autonomia e Criatividade” coordenada pelo ator Luciano Melo, assumem novos protagonismos nas ações formativas desenvolvida internamente pelo Coletivo Piauhy Estúdios das Artes, o objetivo é formatar atitudes metodológicas que possam, além de potencializar os membros do grupo, servir de fundamentação para oficinas e cursos de curta e média duração oferecidos a comunidade artística em geral pelos membros do Coletivo. 

26/11/2020

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Por Luciano Melo
Ator

O que atuante tem a sua disposição para atuar? A sua totalidade que reúne corpo, respiração, emoções, memórias, saberes, capacidades cognitivas e espirituais, além de outras possibilidades desconhecidas. 
Se temos ao nosso dispor essa totalidade, precisamos estimulá-la a fim de aprimorar nossas potencialidades expressivas. O atuante é um artista; seu papel é expressar um mundo imaginário. Para tanto, precisa engajar a totalidade do seu eu para a expressão artística.

Falo sobre isso, pois, ao final de nosso trabalho de ontem, mais uma vez, experimentei no meu todo o quanto os trabalhos corporais e respiratórios contribuem com a harmonização de minha totalidade expressiva (incluindo as memórias, saberes, cognição, a espiritualidade e o inefável humano).

De início, alongamos e respiramos. Podíamos empregar um hífen e criar o verbo da ação alongar-respirar. São duas ações que se combinam com a totalidade corporal. Com o corpo alongado ampliamos a respiração; por meio do respirar acordamos músculos do corpo. E foi um deslumbramento sentir esse corpo respirar-alongar: sentíamos a expansão da totalidade corporal.

Houve uma orientação: inspirar e expirar somente pelo nariz. Essa meta reestruturou o corpo e fomos desafiados a perceber o todo corpo agindo de modo diferente. Não se trata de uma consciência corporal se a entendemos como um processo racional. Antes, via como uma exploração de outros modos do existir corporal (respiração-corpo) que levava-me a descontruir intuitivamente certos hábitos respiratórios e posturas corporais.

Para construir um artista necessita desconstruir.

O grupo passou para os três atos de exercícios que trabalham respiração-energia-resistência-concentração-totalidade do ser. Além de experimentar os limites do corpo, trabalhei a articulação entre respirar, emitir sons, movimentar-se, equilibrar-se e o sentido pleno de exploração da totalidade do atuante. O equilíbrio entre a iminência da exaustão, os movimentos que precisavam ser executados, a produção de sons e a concentração do atuante (não podia desligar de mim e de tudo que estava sendo feito): tudo estava em jogo. Eu jogava simultaneamente com esses desafios (além de tocar no inefável mágico de mim).

Depois, o exercício de improvisação sobre um objeto que provocava o desequilíbrio do atuante (prancha de equilíbrio). Interagir com o desequilíbrio e criar. Eu e a prancha interagíamos e surgia sensações, textos e emoções. Construir-desconstruir-construir. Eu brincava com aqueles estímulos, brincava com o ato de equilibrar-se/desequilibrar-se, interagia com a plateia (meus companheiros de cena dispostos num círculo), brincava com a imaginação da criação de atuante.

Esse brincar é próprio do atuante. Ele joga com suas imagens e maneiras suas de criar. A criatividade do atuante, por um lado, é como a imaginação de uma criança ao brincar: entrega-se com toda sua imaginação criativa ao propósito de brincar. Só isso importa: brincar por meio dos usos de tudo que se encontra a sua volta pela regência de sua imaginação.

Por fim, trabalhamos um texto passado por nossa educadora. O meu era: “não costumo bater em pessoas mais velhas do que eu, mas você é mal-educada e boca suja” (não lembro bem). A ideia era criar movimentos integrais em sintonia com o texto emitido. Já não lembrava que era um exercício. Já não tinha como primeiro plano de consciência que era um jogo proposto para explorar a criação. Apenas buscava integrar texto falado por mim mesmo – minha respiração – gestos/movimentos – estar e interagir com o espaço de criação (a árvore, os arbustos, a pedra rugosa de Castelo do Piauí que calça o pátio, a noite, o ar à minha volta, meus colegas em criação, a voz da educadora...) – explorar o inefável em mim...

Habitava em mim uma emoção de desilusão e abandono. No momento não racionalizei tampouco imaginei, mas, parece-me agora, ao escrever as memórias dos exercícios criativos, que uma emoção de um filho que falava com uma mãe desalmada e desamorosa movimentava-me. Sentia abandono e desprezo. Se, no início do exercício, buscava “bater”, à medida que esse abandono e desprezo se instalava, sentia-me só, desprotegido, pequenininho... 

Assim, repito: “precisa engajar a totalidade do seu eu para a expressão artística”.

26.11.2020

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Por Deusa Sofia
Atriz

Comecei a atividade um pouco desconcentrada e sentindo a respiração agitada. O exercício de olhos vendados deixou isso ainda mais flagrante. Procurei visualizar a frase escrita dentro dos meus olhos, como em um quadro, mas nem isso funcionou. 

A sugestão da condução era inspirar e expirar pelo nariz direcionando essa respiração para alguma parte do corpo, pensando esse lugar. 

Concentrei no abdômen mas senti a respiração muito no rosto e no topo da cabeça, dentro das vias das narinas. Me lembrou a respiração que tenho quando estou com muito sono, muito relaxante e sem peso na garganta. 

Senti muito impacto no exercício do cinturão de força que me levou a sentir que coloquei muita força, senti um pouco de vertigem alguns momentos e procurei me concentrei ainda mais em respirar e na postura. O corpo arrepiou. Fui ao limite. Os outros exercícios de  equilíbrio e vocalizes (retundantemente)  me equilibraram. 

Na etapa com o disco de equilíbrio, senti muita vontade de fazer e senti a vontade de todos participarem e isso pra mim foi essencial pra ser divertido e investigativo: todos provocaram e foram provocados de alguma forma. Foi natural disputar com Walba meu local no disco, nem pensei. 

Um pouco antes do início propriamente dito das cenas, recebemos frases para decorar. A minha me atingiu em cheio. Procurei trabalhar no exercício de dança pessoal e partitura (que dessa vez foi realizado sem música). Imaginei um confessionário primeiramente mas o lugar não me disse nada e sim o desconforto nas costas e peito, dentro de mim. 

Me emocionei muito porque a medida que fui falando o texto fui associando a um episódio chato vivido hoje. 

A respiração inspirada e expirada me ajudou a chegar mais facilmente nessa sensação, até chorei. Mas não senti a garganta fechar como da outra vez. 

Procurei me alimentar das cenas dos colegas. Na minha vez o momento de emoção maior já havia passado então repeti o que tinha criado mas algo não ficou fixo. 

Finalizei leve e sentindo a voz um pouco na cabeça, sem dor na garganta ou no corpo, apenas o cansaço pelo esforço físico extremo.

26.11.2020

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Por Àllex Cruz
Ator

A busca por uma consciência respiratória entendendo-se quanto um corpo respiratório, no sentido de que a respiração pode chegar em diversas partes do corpo, e ter consciência de cada local que ela chegue, é um trabalho diário e não é fácil pois também trata-se de entender seu corpo e seus funcionamentos básicos.

Nesse 4 dia de treinamento pre-expressivo/expressivo a partir do comando de respirar somente pelas vias nasais, de uma forma consciente durante o aquecimento pude sentir o caminho da respiração até onde eu mentalizo que seja sua chegada, a partir disso procurei exercitar durante todas as cenas, e me ajudou bastante nos exercícios, principalmente na escada onde o principal ponto era o equilíbrio e a fala do texto, me trouxe uma limpeza e fluidez nas minhas vias nasais, diferente de como eu cheguei que estava uma pouco congestionada.

Ainda nesse primeiro momento, o exercício de estar vendados me fez pensar nessa perda de audição que nosso cotidiano nos trás, e nós como artistas da cena não podemos ser manipulados por essa falta de escuta.

Percebi que o encontro do equilíbrio da voz no desequilíbrio é de extrema importância para o atuante. Onde de início acabei indo para o caminho errado em cima do “disco de equilíbrio”, no inverso de ficar no desequilíbrio eu ficava no lugar de equilibrar. Acabei acessando ao meu pessoal, no sentido do processo da busca por equilíbrio. Entretanto, no decorrer do trabalho eu fui entendendo.

No último momento na criação de partituras a partir do texto pré-estabelecido, eu aprendi que não posso deixar um caminho por inacabado quando se trata de criação, e seguir outro sem explorar aquele que já havia encontrado, “vá até o final Àllex”.

26.11.2020

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Por Walba Soares
Ator

A troca deste encontro teve como proposta inicial e ponto de partida a respiração pelo nariz, que até então estava sendo trabalhado pela boca. Um tanto diferente pensando nessa energia da respiração e sua circulação nesse corpo vivo. Como o ar entra e sai, de forma a oxigenar e preencher todo organismo focado num ponto em algum lugar, numa respiração focada e direcionada.

Os exercícios de respiração me conduzem a uma consciência corporal, limpeza deste corpo, de forma consciente e muito viva. A funcionalidade em tudo que se for fazer parte desse princípio básico, trabalhar isso é o grande desafio do atuante, com isso a investigação constante de aspectos importantes para o atuante (concentração, memória, imaginação, etc)

O trabalho pré-expressivo colabora muito para a execução satisfatória das “cenas” seguintes de forma que se tornam tudo muito ligado e integrado, com profunda atenção e escuta dessa “coluna respiratória”. O esforço se torna menos, quando trabalhado de forma consciente e equilibrado, partindo sempre dessa respiração regular e de como se produz os sons que auxilia e usando a estética a favor do trabalho a ser executado.

Partindo para o exercício do disco, como manter-me em “desequilíbrio” em “equilíbrio”, juntamente com a voz e o texto externalizado, uma mescla de atividades potentes, que revela com naturalidade as potencialidades do jogo. Um desequilíbrio que gera sensações de não desconforto, mas um contraponto do jogo possível e imprevisível, desde que feito de maneira presentificada e espontânea. Contracenar com os colegas gera possibilidades de partituras e organicidades para o jogo de cena. A improvisação é elemento norteador, que possibilita construir múltiplas maneiras de extrair além da cena e extensões do corpo que é alimentado pela troca constante e a escuta viva, mediante o trabalho coletivo e ativo.

A construção de cenas partindo do texto, de dentro para fora, se fortalece de maneira viva quando me permito sentir e desconstruir o óbvio.  Como meu corpo gera o texto de maneira orgânica, minha mente esvazia-se para uma concentração eficiente. Satisfação e Sensibilidade são palavras chaves para minha experiência desta troca e desenvolvimento constante no trabalho para o exercício da cena.

26.11.2020

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