quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense 2016: Dias Melhores Virão?

Foto: Alysson Castro

         Ano após ano tenho feito uma retrospectiva do período que vai se encerrando na Cena Teatral Piauiense, certamente, uma única visão não contempla a diversidade de pensamentos que permeiam a questão, porém, um teatro que não expõe, de forma opiniosa suas vísceras, não é um teatro sério, então, mãos à obra:

          Como sempre, tivemos poucas estreias, demonstrando a fragilidade dos produtores teatrais locais, em manter uma continuidade e regularidade na construção de produtos cênicos, devemos destacar o “Grupo Harém de Teatro”, que consegue todos anos fazer o dever de casa, sempre apresentando novos trabalhos, em 2015 foi a vez de “Um Bico Para Velhos Palhaços”, de Matei Visniec, com direção de Arimatan Martins, comemorando os 30 anos de atividades do grupo. O Harem ainda realizou a sexta edição do FESTLUSO (Festival de Teatro Lusófono) e reestreou a “Casa de Bernarda Alba” de Lorca, finalizando as comemorações dos seus 30 anos, com a última apresentação da antológica “Raimunda Pinto Sim Senhor”, de Francisco Pereira da Silva.

            O GRUTEPE (Grupo de Teatro de Pesquisa), também, estreou o seu “Itararé a República dos Desvalidos”, remontagem do clássico texto de Afonso Lima, também sob a batuta de Arimatan. Necessário fazer merecida menção ao COTJOC- COMPANHIA DE TEATRO JOVENS EM CENA, capitaneado por Arimatéia Bispo, que além da “Mostra Teatro ao Alcance de Todos”, e da sua tradicional “Paixão de Cristo”, levou aos palcos do Estado, “ A Verdadeira História de Romeu e Julieta”, Direção Alinie Moura Do Caermo e Arimatéia Bispo, para o texto de Jean Pessoa. Outra boa surpresa foi a estréia de "Casimira Quietinha", texto de Waldilio Siso, direçao de Avelar Amorim. O Grupo Utopia de Teatro, dirigido por Chicão Borges, também, tem conseguido montar alguns trabalhos e realizado sua mostra anual. Vitorino Rodrigues e sua trupe realizaram “ZUMBEATS”, boa iniciativa para o teatro infanto juvenil. O Grupo Escalet de Teatro, da cidade de Floriano, protagonizou a 4ª Edição do Festival Nacional de Teatro e, manteve algumas montagens. Parnaíba conseguiu, também, realizar uma produção teatral ainda pequena, com os grupos de Carmem Carvalho e o Coletivo Cabaça, dirigido por Rick Costa. Além disso, algumas poucas produções comerciais, as tradicionais Batalha do Jenipapo, Paixões de Cristo, Operetas de Natal e uma ou outra iniciativa com menor visibilidade.

            O SESC-Piauí realizou duas iniciativas na área teatral: SESC Março de Artes Cênicas e Festival Pipoca e Guaraná, no entanto, uma pergunta incômoda tem pairado no ar: Por que o SESC Piauí não consegue colocar as produções locais nos seus dois projetos de circulação, Palco Giratório e SESC Amazônia das Artes? O que incomoda é que os nossos espetáculos possuem, muitas vezes, até maior qualidade dos que os que tem circulado por aqui. A Classe Teatral Piauiense, de forma organizada, deve sim em 2016, procurar explicações mais fundamentadas, por parte da Coordenação Regional de Cultura do SESC-Piauí, sobre essa questão.

           A FCMC (Fundação Cultural Monsenhor Chaves), na atual gestão, deixou o Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense no vácuo de iniciativas, esperamos alguma coisa positiva no último ano da administração de Lazaro do Piauí e Firmino Filho.

          A SECULT-Piauí (Secretaria de Cultura) abre suas portas com algumas perspectivas interessantes, entre as principais estão: a recuperação dos espaços culturais da capital e interior, e a setorialização do SIEC (Sistema de Incentivo Estadual a Cultura) por áreas artísticas já em 2016, o que pode ser muito positivo para os bons projetos cênicos. O Secretário Fábio Novo, tem procurado dialogar com os produtores teatrais, tem força política e atuação na área, dessa forma, é torcer, e crer para ver.

          O Coletivo Piauhy Estúdio das Artes conseguiu manter seus projetos “Fogo”, Exercício Sobre Medeia” e o Ciclo de Leituras Dramáticas (com mais seis edições este ano de 2015), ministrou seis oficinas de iniciação teatral na Casa da Cultura de Teresina com turmas lotadas, está em processo com dois novos trabalhos teatrais e mais um Pocket Show, “Música de Primeira Para Interpretes de Última”, estabelecemos uma maravilhosa parceria com o Grupo Harem de Teatro, coordenando a parte formativa do FESTLUSO. No ano que se encerra obtivemos conquistas relevantes para o cenário teatral piauiense: destacamos nosso protesto na escadaria da extinta FUNDAC, onde exigimos respeito e seriedade no trato com o artista da cena. Outro momento glorioso foi a temporada vitoriosa do espetáculo “Exercício Sobre Medeia”, no Rio de Janeiro, abrindo o “Projeto Grandes Minorias” (Teatro Glauce Rocha), a convite da dramaturga Marcia Zanellato. Fundamental e inédito para a arte do Piauí, foi a nossa participação no FILTE (Festival Latino Americano de Teatro da Bahia), onde proferimos um colóquio no Núcleo de Laboratórios Teatrais do Nordeste-NORTEA, como também, conseguimos inserir o FESTLUSO no Fórum dos Grandes Festivais de Teatro do Brasil. Além disso, o solo de Silmara Silva levou a maioria dos prêmios no 4º Festival Nacional de Teatro de Floriano, na categoria monólogos. Portanto, este ano para nós, foi de construir pontes, para integração do nosso teatro com outros criadores, pesquisadores e agrupamentos de várias partes do país.

            2016 se avizinha trazendo grandes expectativas, e o Coletivo Piauhy Estúdio das Artes, descortina o ano com a esperança de trazer em parceria com os grupos Harem e Oco Teatro Laboratório (da Bahia), um encontro do Núcleo de Laboratórios Teatrais do Nordeste para Teresina, este evento possibilitaria a participação de alguns dos melhores coletivos e pesquisadores do teatro brasileiro na nossa cidade, compondo as atividades de formação do Festival de Teatro Lusófono 2016. A contribuição de todas as instituições públicas, bem como, de empresas privadas, será de suma importância para o fortalecimento dessa e de outras ações nossas e do movimento teatral piauiense como um todo.

           Esperamos dias melhores para nossa arte, e o nosso compromisso, é a inserção do Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense, de forma orgânica, na nova cena do Teatro Contemporâneo Brasileiro, nós do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes, estamos prontos.

Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes
31 de dezembro de 2015
        

2 comentários:

  1. Caro amigo Adriano, o grande problema do nosso teatro, apesar de alguns avanços, é o total isolamento dos grupos. Já conseguimos, sem dúvida alguma, vencer alguns gargalos, mas a questão do isolamento, caracterizado aqui, como uma arte quase invisivel em nosso meio faz com que o teatro piauiense passe longe de qualquer discussão e avanço, principalmente em termos politicos. Isso enfraquece a classe que nesse momento navega sozinha, individualmente, em um mar de tormenta.

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  2. Verdade Aci. Diante dessa constatação temos procurado romper esse isolamento em nível local e nacional. Isso traduz-se na criação de produtos culturais diversificados, bem como, o estabelecimento de parcerias com grupos e pessoas do Piauí e do Brasil. Infelizmente, temos notado que localmente algumas organizações e indivíduos, por vaidade, temor, alienação ou simples despeito negam-se a esse diálogo. Porém, continuamos nos propondo a isso, independentemente a quaisquer circunstância. Nossa meta é colocar o Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense no olho do furacão do melhor teatro feito no Piauí. Conseguiremos? O tempo dirá. Contudo, a ajuda de todos é fundamental para o alcance desse objetivo que suplanta o individualismo pois deveria se de todos nós.

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