segunda-feira, 8 de abril de 2013






Transcenda ou Desapareça dos Palcos

              O título pode parecer manifestação de revolta, arrogância, frustração. Talvez uma infausta, porém ingênua, pretensão de mudar os rumos do Teatro Brasileiro de Expressão Piauiense, o que seria utópico. O mestre Paulo Freire afirma:  “Só os profetas podem  ser utópicos” . Este ensaio é filho de um sentimento amoroso, comum aos amantes que nutrem enorme expectativas em relação ao ser amado. O teatro.
            Escrevo para os que sonham, trabalham noite e dia para viver na arte, da arte. Escrevinho também aos absenteístas, um dos grandes homens do teatro do Piauí lamentava com sorriso entredentes: “ - Faltaram quatro atores hoje ao ensaio”. Como é triste o desamor. Grito aos que gastaram honestamente até o último centavo e para os que corromperam a própria consciência por trocados. Clamo aos lúcidos, viajantes da imaginação criadora infinita e eternamente pura, mas também, aos que se drogaram nas sombras da arte e, assim, adentraram as salas de labor. Abraço afetuosamente os meus irmãos de luta que confrontaram-me com realidades amargas, todavia, acalento os embriagados de maledicência e falsidade que sorveram meu sangue na punhalada covarde. De mãos dadas com os que me amam e são por mim amados, sigo com olhar marejado no adeus os que pensam me odiar, sei, já que não conseguem esconder, queriam estar ao meu lado. Conclamo a todos, todos, sem exceção" TRANSCENDAM NO ATO TEATRAL OU DESAPAREÇAM DOS PALCOS."
          Horas imponderáveis chegam velozes como foices sobre nossas cabeças. Qual legado poderemos deixar para as gentes de teatro que repousam nos úteros das mães? Que memórias bordaremos  na túnica do tempo e do espaço? Por que viver  dentro da arte impregnando ar, terras férteis, mananciais d’água cristalina do teatro com horizontes precários do medo, maldade e loucura?
         Vi um espetáculo na periferia da cidade, o épico da “Paixão de Cristo”, na ingenuidade suave-rude daqueles jovens artistas, revelou-se toda essência do teatro, vontade de transcender. Por um instante a tempestade que se avolumou por traz do morro da iniquidade cessou, enxerguei uma estrela que me disse: “ - Fique mais um pouco. Ainda não é hora de ir embora”

Adriano Abreu (estação das águas)

           

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