terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Quando Atuar é Um Movimento da Alma









Quando Atuar é Um Movimento da Alma

 “O palco é a verdade, é aquilo que o artista acredita sinceramente;
até a mentira notória deve tornar-se verdade no teatro para ser arte.
 Para isso o artista deve ter uma imaginação fortemente desenvolvida,
ingenuidade e confiança infantis, sensibilidade artística
 para a verdade e o verossímil na  sua alma  e no seu corpo.
Todas essas propriedades lhe ajudam a transformar uma grosseira
mentira cênica na verdade mais sutil da sua relação com a vida imaginada.”
Constantin Stanislavski (Minha vida na Arte)


        Nem eu, nem o mais hábil diretor de teatro, é capaz de ensinar o mais talentoso(a) ator(iz) a representar um papel. Essa é a consequente e mais profunda reflexão que realizo nos meus vividos anos de teatro. “As mais terríveis verdades são os nossos melhores álibis”, preconiza assim o grande Eugênio Barba, dessa máxima posso retirar lições que me libertam e, traçam indeléveis metáforas, que me levam há outro tempo, outra dimensão do significado atuar.
       Sem gloriar-me de tal privilégio (até com certo pânico), colaboro, de maneira pálida, com alguns dos melhores intérpretes do teatro da minha aldeia-nação, o Piauhy. Convivendo com essas mentalidades e espíritos ricamente complexos percebo, sem medo de errar, mas ainda longe de uma verdade confiável, que os grandes atores e atrizes movimentam suas almas, em chamas, na direção de um objetivo indecifrável, intangível.
           Deus criou homens e mulheres a sua imagem e semelhança deu, ou retirou desses seres algo enigmático, os tornando, ao mesmo tempo, vítimas e algozes do resto da humanidade, como também, de si mesmos. Atuar, viverem muitas vidas em uma só existência de forma autêntica, parece tarefa insondável para a maioria de nós outros, para eles ofício.
           Como diretor, considero-me como um tradutor de linguagens obscuras, para quem se propõe a tarefa teatral. Às vezes, ajo como anjo protetor, outras vezes, como cruel escarnecedor. Não me julguem mal, por favor, não cometam tamanha injustiça. O encenador que não protege com verdades a quem dirige é um covarde e comete o mais nefasto dos crimes para a arte dramática: a mentira.
            Alguns, desses seres, que tenho a honra de acompanhar, como quem compõe um poema inacabado, caminham a altiplanos artísticos e humanos com a tranquilidade de quem  recuperou definitivamente suas asas cortadas. Outros ainda debatem-se na dúvida de todos os santos antes de provar a definitiva comunhão com o eterno. Alguns se afundam no pântano da vaidade ilusória. Nenhuma, ou pouca responsabilidade, tenho sobre isso, eles e elas, atores e atrizes, são a arte, eu apenas um olhar. Minha função será cumprida com o que me cabe na vida da cena, olha-los e dizer: “- Acreditei ou não acreditei em vocês nessa noite.”


Para atriz Silmara Silva
                                                            (e para  todas as nobres mulheres do Teatro)

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