O Problema da Arte do (a)
Ator (iz)
O que fazer? Os (as) atores (izes)
entram em furiosa rota de colisão com muros de condições adversas que
contradizem seus sonhos e reais necessidades.
Penso. Pensar sem agir, assim como, agir
sem pensar são sempre delírios, por isso ajo agora, escrevinhando, quem se
dedica a este tipo de atividade, nesse rincão nordestino, corre dois riscos
fundamentais: primeiro, tornar-se produto descartável e funcional de um mercado
que o enxerga como mão de obra barata, desqualificada, completamente desprovida
de qualquer valor intrínseco. Segundo e mais cruel problema, ser corrompido,
recluso, sujeitável por seres que usam a arte apenas como mero aparelho auto-projecional, devido a uma visão de mundo desprovida de objetivos nobres.
Tentarei não tornar este artigo improfícuo, tendo em vista que a questão
carece de respostas urgentes. Na arte, como na vida, verdades plenas são
gaivotas em alto mar, raridades.
Creio. Crer sem fazer, assim como, fazer sem crer são desvarios, por isso
faço agora, revelando. Homens e mulheres que participam de ações cênicas na
província de "São José do Piauhy" sofrem de uma profunda crise paradigmática (isso
vale para grande maioria dos artistas de todas as artes). Portanto, novos
modelos devem vir à luz. As velhas mentiras infiltraram-se como verdades
incontestáveis nas nossas cabeças e, os sofismas, que a grande irmãzinha
internet e a mãezinha televisão, gentilmente nos deram, talvez careçam de
análise mais acurada: a profissão de ator (iz) é uma atividade como qualquer
outra, só que mais exigida, a fama, o glamour, que os aparatos midiáticos
propagam como padrões inquestionáveis fazem parte de estratégias ideológica - comerciais,
visam unicamente o lucro e a alienação, desgraçadamente, essas verdades tem servido
de paradigmas para grande (bota grande nisso) maioria dos atores e atrizes
piauienses.
Pensem nos neurocirurgiões, juízes de direito, pilotos de caças,
profissionais altissimamente qualificados, importantíssimos para as sociedades
e nações qual o glamour que existe nessas atividades humanas? Por isso deixam
de ser essenciais? O oficio de ator (iz), só tem sentindo se trouxer a marca da
essencialidade para raça humana, caso contrário não passa de exibicionismo
piegas. O glamour está em ser bom no que se faz.
Quem foi que nos ensinou que atores (izes) não necessitam de estudo
sistemáticos e continuados, por toda sua existência? Já nos perguntamos por que
afirmamos tal disparate? “– Qual é! Ninguém faz minha cabeça, sou inteligente e
descolado, frequento as altas rodas.” Falarão os incautos.
Não sejamos tão ingênuos, somos frutos de construções sócio-culturais, não estamos, nem de longe, livre de influências, aliás, somos puro produto de
influências várias. Quanto ao estudo? Para realizar-mos obras de artes autênticas
teremos que ter a perícia de um neurocirurgião, o discernimento intelectual de
um juiz e a técnica perfeita de um piloto de caça. Perguntem a qualquer um
desses profissionais quantas horas por dia estudam? Dirão alguns: “– Mais nós
somos artistas.” Têm razão! Ser ator (iz) é de fato mais difícil, precisamos
estudar mais que eles. Isso inclui ensaios, estudos bibliográficos, consumir
arte de boa qualidade, escrever, apresentar e principalmente refletir sobre
tudo isso. Os artistas da Wuppertal (Companhia da Pina Bausch) faziam isso de 8h da manhã às 22h, os
atores do Odin (grupo do Eugenio Barba), trabalharam 14h por dia durante quatro
anos para montarem seu primeiro espetáculo, o Galpão montou o Cerejau, em
quatro semanas, intensivamente, depois de décadas apurando diuturnamente sua
técnica de atuação.
Artistas, não acreditemos
que a vida é uma eterna festa, assimilamos um padrão comportamental midiático,
com relação até o nosso lazer e o nosso prazer. Temos o direito ao prazer e
divertimento como todo cidadão (ã) normal. Porém, o artista da cena, que preza
por seu aparelho psicofísico-espiritual, não pode e não deve desgastar-se de
segunda a domingo em alegrias etílicas. O sono, atividade física orientada,
acompanhamento terapêutico regular, devem ser rotinas no cotidiano do ator (iz)
devido às peculiaridades desse trabalho. O sexo do artista é vendido nas redes
sociais, na TV, na mídia impressa como objeto de consumo. A sexualidade do ator
(iz) deve ser motivo de zelo, devido à intensa troca sensório-emocional das
relações. Deve ser tratado como consequência da busca de plenitude.
Nós artistas, em virtude das
programações que assimilamos, nutrimos desejo obsessivo pelo reconhecimento.
Cuidado! Os que não conseguem se libertar desse sentimento, podem se tornar
indivíduos nocivos á arte: profundamente fúteis materialistas, contumazes
ultrassensíveis a crítica, vaidosos, arrogantes, com o correr dos anos
preguiçosos e maldosos. O reconhecimento pode ou não acontecer. Vale á máxima:
“A arte é muito maior que o artista.” Muita gente mais talentosa e disciplinada
do que nós deram a vida por ela, sem obter nenhum reconhecimento. No sucesso e
no fracasso equanimidade.
Por fim, uma questão
absurdamente prática, a sobrevivência do (a) interprete. Muito provavelmente
você não ficará rico, nem comprará carros importados e mansões. Fará trabalhos
chatos e tolos, dará aulas, será dirigido por pessoas sem talento, será alvo da
inveja, incompreensão, maledicência, muitas vezes será enganado por criaturas
de má fé, trabalhará de graça e até pagará para fazer o que gosta. Mas sobreviverá
a troco de muito trabalho.
Conhecerá pessoas e lugares
interessantes, terá contato com o que de melhor e relevante o homem criou nas
artes e na cultura, se for realmente um ator (iz) autêntico (a). Poderá
inclusive, se tiver um pouco de cuidado aposentar-se e ainda continuar
trabalhando. Felizmente a sociedade regulamentou a profissão de ator (iz) garantido
alguns direitos básicos.
Se conseguires equilíbrio, poderá
constituir um lar, se interessar, ter filhos. Enfim ter uma vida normal, todavia,
muito mais rica do que a dos seus contemporâneos.
Coisas ainda precisam ser
ditas. Mas “O mistério da arte só nós temos o poder de desvendar e, é uma caminhada
árdua, porém possível.” Concluo com o poema de Paulo Leminski:
"isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além"
Adriano Abreu – Diretor do Piauhy:
Estúdio das Artes
09/07/2012 às 22h de
Segunda-feira.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ relevante esclarecer que essa realidade o qual você expõe de forma magnífica no seu artigo, é uma problemática dos nossos atores Piauienses, mas é uma realidade a nível de Brasil também. Nós não pensamos no nosso trabalho, não pensamos em teatro como é para ser pensado, nós simplesmente fazemos. E pensar é uma tarefa de aprendizado, assim como aprendemos a andar, comer, beber, ou qualquer outra atividade. Mais tudo isso infelizmente deu lugar a pobreza de espirito, a intelectualidade barata e desprovida, as invejas e discussões impróprias. Nós, nos encontramos em meio a uma geleira mental e cultural, mesmo estando em um estado quente como nosso querido Piauí. Por fim acredito na transformação e crescimento na mente dessa nova geração que se mostra interessada no verdadeiro fazer artístico. Oremos!!!
ResponderExcluirSilmara Silva
Acredito, sim, que essa nova geração ainda levará as coisas mais a sério. Assim como eu tive e tenho que levar a cada dia. A arte está acima de nós. Como ouvi ontem a noite: "nós vamos e o que sobre é a arte, ela fica." Estudo sempre é válido e quando percebermos que a arte é algo espiritual e entedermos também que este oficio de ator (iz) também é uma profissão, talvez aí sim passaremos a valorizar a arte que nos rodeia.
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