Relações Íntimas no Teatro
“Metáforas são perigosas.
O amor começa com uma metáfora...”
Milan Kundera
Tempo de relações flúidas, hedonistas
e exibicionismo. Onde as pessoas até se fodem (foder significa também não dar
importância), mas não se amam e nem sequer se comem (comer pressupõe
alimentar-se) perambulam pelos caminhos, vazias. Nossas Relações Íntimas com o Teatro seguem a mesma lógica.
Falava, sempre falo o que não devo,
para um ator angustiado prestes a decolar para uma apresentação: “- Paz! O
sucesso vem atrás.” Ele sorriu entredentes e respondeu: “- É o que estou precisando.” O quê dizer sem parecer
arrogante e pretensioso? “ – Você irmão está pisando com suas botas em seu
próprio pescoço.” Não falei nada, ainda bem.
Consumar o ato amoroso com o teatro, como um bom amante, traduz-se em
plenitude. Embebidos no instante do fazer artístico, movidos pelo prazer
compartilhado e sublimes sensações nos transportamos para um universo paralelo divino,
sem axiomas ou meias verdades. Nós artistas sabemos tudo sobre meias verdades.
Culpas, mágoas, medos, muitas vezes
nos tornam impotentes para amalgamarmo-nos com o teatro. Egoísmo, tolas
vaidades, ilusões românticas de fama (o
sucesso é sempre um deus egoísta), racionalismos piegas apenas transformam nossas ligações intimas com a arte em atos
robóticos e, consequentemente, frustrantes. Orgasmos sem afetos são bolhas de
sabão. Todas as ilusões se esvaem como a neblina ao chegar dos primeiros raios de sol. Por que construir escadas
para o vazio interior? Construamos pontes para luz. Conhecer e entregar-se.
(Re)Descobrir amorosa e intensamente “a dimensão orgânica do gozo” teatral. Do ritual.
Ser feliz com minhas opções estéticas,
desejando e fazendo sempre o melhor, o bem feito. Existir e fazer com que o
outro exista na vida e na cena. Albert Camus
traduz o sentimento do precário em frase : “O homem é a única criatura que
se recusa a ser o que ele é.”
Amar e ser amado na e pela arte, o
que mais um artista pode querer? Exige autenticidade e desprendimento. Os
grandes e pequenos momentos tomarão conta do resto. O sentimento é tudo Aliás,
nada mais demodê do que relações íntimas casuais. O teatro é um amante fiel, saboroso, sobretudo, exigente. Sólido como uma
nuvem e líquido como um diamante.
(Este ensaio dedico a atriz Edite
Rosa singela e equânime como uma legítima Rainha Nagô)
Adriano Abreu
É Diretor do Piauhy:
Estúdio das Artes.