Diálogos de Pedagogia Teatral
- No Último Diálogo de Pedagogia
Teatral elucidamos como são realizados os processos de construções de espetáculos
na perspectiva do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes.
4º Diálogo
Construindo Atos Teatrais Autênticos
“Não o esqueça, homem: tudo o que você é, tudo
o que você quer,
tudo o que você deve, parte de você
mesmo.”
Johann Pestalozzi
Processos de construção de espetáculos cênicos
que utilizam atuantes com sólida formação cultural e profissional, diretores
que compreendem a necessidade da realização do seu trabalho numa perspectiva
dialógica, estruturado sob condições econômicas, técnicas e tecnológicas
ideais, traduz uma realidade ainda distante no Teatro Brasileiro de Expressão
Piauiense, bem como, na enorme maioria das expressões teatrais Brasil afora.
Diante dessa constatação não devemos
estacionar na conformação de nossas fragilidades, menos ainda no espírito
utilitário das ideias comodistas, como
os contumazes amantes do menor esforço, lucro fácil, vacuidades, plágio e
outras concessões ainda mais inferiores que não seria construtivo lembrar, porém,
é o que temos encontrado em boa parte das produções locais e nacionais no
teatro contemporâneo. Afinal, o tudo e o
nada agora são arte, pois o que dizem ser arte, necessariamente deve ser e, os
que discordam, são taxados de arrogantes, conservadores e antipáticos. Continuarei
discordando; no teatro e na vida detesto embusteiros. A lisonja, mentiras e
ilusões levaram nossa arte para qual lugar?
Deixando de lado essas quixotescas críticas, pois nada resolvem, e nos
afastam do objetivo principal: a possibilidade da consecução de espetáculos
teatrais qualificados, através de um envolvimento visceral da equipe criativa
com o produto cultural que pretendem inventar
coletivamente, utilizando muita racionalidade, um certo de grau de pragmatismo,
ética e disciplina ilimitadas voltadas para criação de uma estética.
Nós do Coletivo Piauhy Estúdio das
Artes temos procurado desenvolver uma práxis de montagem que acredita no
atuante como Partícula Essencial do
Trabalho Cênico, portanto, o treinamento dos atores e atrizes, parte de uma
visão formativa desses elementos, em
detrimento das dificuldades técnicas e culturais identificadas em cada um
deles, consumindo a maior parte das nossas preocupações, bem como, parcela
considerável do tempo gasto nas atividades criativas da equipe; ilustrando, teríamos o seguinte gráfico:
Essa configuração significa
perdas e ganhos, ou seja, se os nossos atuantes sedimentam, progressivamente, melhoria
técnica, teórica e conceitual, por outro lado, o Coletivo não consegue avançar rapidamente em outras áreas
importantes: como aumento dos recursos financeiros, melhoria dos aspectos de divulgação, propaganda e organização
burocrática, isso sem mencionar, um aumento considerável do tempo gasto em uma
montagem, no entanto, foi a solução encontrada para fortalecer o nosso produto
final, explicitando, um espetáculo onde a atuação seja, o máximo possível, homogênea
(todos os atores e atrizes no mesmo nível de representação), vibrátil e corporificada com a mensagem
a ser repassada.
Ao contrário das outras
organizações teatrais do nosso estado, até onde temos notícia, acrescentamos
outras fases nos processos de construção de espetáculos (ver 1º Diálogo), fator
que também dilata o tempo de concretização das nossas produções, dessa forma,
temos os seguintes extratos em uma montagem:
- Estudos bibliográficos e de campo
do diretor (permanentes e diários).
- Treinamento e outras atividades
formativas dos atuantes (permanente).
- Formatação de Projeto de Montagem
(plano escrito).
- Laboratórios de pesquisa, descoberta
e apropriação de linguagens.
- Montagem propriamente dita
(organização das linguagens em forma de espetáculo).
- Desmontagem (trabalho do atuante em
criar por dentro de uma forma
definida).
- Execução da parte visual do espetáculo (iluminação, figurinos, maquiagem,
cenografia, ambientação sonora, etc).
- Ensaios gerais de afinação (de 5 a
10 ensaios).
- Estreias.
- Avaliação depois do contato com os
espectadores.
- Ensaios posteriores de manutenção,
enxugamento e revisão de linguagens.
Essas fases (ou extratos) ocorrem, em geral,
simultaneamente, porém, nunca são subtraídas dos processos criativos, tendo em
vista, já fazerem parte de um sistema de construção cênica que têm se mostrado
exitosa ( no processo e no resultado) podendo, sem sombra de dúvida, ser
utilizada por outros grupos que ensejam um trabalho sério e frutificador, guardando evidentemente as características,
interesses, facilidades e dificuldades inerentes a cada equipe criativa, até
porque, não é do nosso interesse, fazer proselitismo sobre nossos métodos,
ética e princípios, o que serve para nós, pode não interessar a outros artistas
e não nos cabe apregoar verdades absolutas, como sabemos, no teatro, em muitas
ocasiões, elas são relativas.
Como pedras vivas concretizamos os “Diálogos de Pedagogia Teatral”. Acreditando, que esses quatro
textos que compõem uma só mensagem semeada no vento, possam contribuir de
alguma forma com essa magnífica experiência humana chamada teatro,
transformadora e reveladora dos homens e mulheres habitantes de todas as partes
do mundo. Atividade tratada como irrelevante bobagem e perca de tempo por
muitos e, indispensável, a vida de tantos. Arte que deve ser praticada com
propriedade, respeito e alteridade para que possa iluminar, transcender e
curar, se possível, o espírito dos
seus espectadores, sem que seus oficiantes jamais se envaideçam desse ato.
Lembremo-nos: o espetáculo é infinito, e a nossa existência no teatro uma breve
cena, que pode ser indiferente a quem observa ou essencial para quem assiste e
para os destinos da nossa arte. Assim nos ensinaram os grandes mestres que
imortalizaram suas buscas alumiando nossos caminhos como quem acende uma
estrela.
Agradecimentos:
- Aos pedagogos que me reconciliaram
com a pedagogia, atividade que ando há muito tempo apartado, e que esses
mestres me convenceram o quanto preciso dela para ser um diretor teatral mais
consequente:
·
Johan Pestalozzi, Anton Makarenco,
Celestin Freinet e Paulo Freire.
- Aos Diretores-Pedagogos que me mostraram a importância do diálogo como
ato de partilha entre os homens e mulheres do universo teatral. A esses mestres
meu respeito cerimonial, pois me provaram que o teatro jamais será uma mentira
e a importância de buscarmos a autenticidade na arte que construímos.
·
William Shakespeare, Constantin
Stanislavski, Antonin Artaud, Jerzy Grotowski, Peter Brook, Etienne Decroux,
Eugenio Barba, Richard Boleslavski, Eugenio Kusnet, Luis Otavio Burnier,
Laurent Matallia, Paulo Machado, Leverdógil de Freitas e Chiquinho Pereira.
- Aos meus colaboradores
mais próximos e não menos importantes interlocutores. Construtores dessa
estrada evolutiva nos horizontes do teatro que é nosso ofício, vida e amor.
·
Arnaldo Pacovan, Caio Leon, Carlos
Aguiar, David Santos, Érica Smith, Luã Jansen, Pablo Erickson e Silmara Silva.
- Ao
mestre dos mestres, que reúne em si todas as potencias em grau superior. Leitura obrigatória a quem faz arte, que
nos ensinou que fazemos parte do teatro perfeito de Deus.
·
Jesus Cristo.
Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy Estúdio
das Artes
Fim da Estação da Seca