Atuar Verdadeiramente!
Ato Único de Libertação!
Ato Único de Libertação!
“Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade.
A liberdade não é um fim, mas uma consequência. ”
(Leon Tolstoi)
A liberdade do ator deve ser total. Isso é um fato inquestionável para os que buscam a autenticidade. Todavia, o que vem a ser essa tal liberdade? Como o atuante consegue ser completamente livre para criar o seu papel, abrindo-se de forma confiante para ele, ator-doando-se nele?
O que aprisiona os atores e atrizes são suas percepções passivas do papel, então eles acreditam cegamente que podem se esconder por trás de alguma tradição, ou o que é pior, revoltar-se contra as tradições, considerando-as como grilhões que devem ser rompidos. Afirmo, tanto uma quanto outra posição encarceram os artistas da cena em falsas convicções.
Então atores e atrizes continuarão perdidos, debatendo-se ou omitindo o problema fundamental da liberdade. Vociferando, ou silenciosamente magoados, os atuantes continuam vendendo muito barato o seu inalienável direito de serem livres. Pois nenhum encenador, minimamente capaz (a praça está repleta de incapazes), aliena o artista da sua automia criativa, se assim o faz, a justificativa sempre é a omissão ou ação equivocada dos mesmos.
Dirigi um artista que possuía muitos recursos criativos, no entanto, fui rechaçando uma a uma as soluções que ele me apresentava para construção da personagem, é necessário ressaltar que algumas dessas soluções eram realmente muito boas, porém, eu queria algo mais daquele ator, almejava o extraordinário, vaidade de um jovem diretor que se aventura a dirigir um atuante talentoso, ele não reclamava, tão pouco se rebelava silenciosamente, como o fazem os hipócritas, apenas, trabalhávamos os dois à espera do imponderável. Foram horas naquele frenesi da criação de uma categoria essencial para os homens e mulheres do teatro, a busca suprema da verdade, onde só os verdadeiramente livres ousam chegar. Naquele exato momento, quando o caos psicofisiológico e a exaustão buscam desesperadamente a ordem, o nosso ator balbuciou uma palavra: - MÃE! Até hoje não consigo dimensionar o que aconteceu naquele exercício de cruel libertação, o certo é que naquela ação de absoluto desnudamento, a sala de ensaios ficou minúscula para tanta vibração, e eu, um pobre e jovem diretor, tonteei e não pude dizer mais nada. O atuante tinha conseguido finalmente conquistar sua alforria. Depois desse fatídico dia, realizamos a apresentação combinada, e ele nunca mais atuou.
Onde a mentira acaba e as verdades eternas do teatro fazem morada, ali reside a liberdade de atores e atrizes. Qualquer outro discurso tradicional ou contemporâneo, conservador ou vanguardista, serão perca de tempo. Teatro é para quem tem coragem e sabe, que destruir é muito fácil, mas construir é para os valentes da vida inteira.
Dedico este texto ao ator Carlos Betão, pois sabe escutar verdadeiramente em cena, uma das mais difíceis tarefas para um atuante.
Adriano Abreu
Diretor do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes
Teresina – Estação da Seca