domingo, 9 de fevereiro de 2014

O Espectador e a Construção da Obra de Arte

Foto: Silmara Silva

        Se o trabalho do ator(iz) é a minha bússola o espectador me serve como farol. Quando o encenador escolhe os "materiais" que utilizará no processo criativo não deve perder de vista a quem se destina o seu produto cultural. Aparentemente essa afirmação pode parecer óbvia, mas o encenador, técnicos e fundamentalmente atores(izes) estão imersos na feitura da obra, não raro, se esquecem que são apenas ferramentas, matéria prima e manufatura do espetáculo. A platéia é que fará com que o trabalho permaneça no espaço e, às vezes, no tempo.
        Os coletivos artísticos podem concretizar construções que ampliem o universo cultural, cognitivo, valorativo e espiritual do seu público, elevando as perspectivas da vida dessas pessoas lhes proporcionando, além de entretenimento, emoção estética e, por vezes, se a obra for autêntica, até momentos de fruição da alma. Porém, podemos realizar trabalhos que não contribuam com a evolução cultural do espectador e, muitas vezes, até chegam a estagná-la.  
        A escolha da matéria prima é importantíssima na fabricação da obra de arte. Impossível conseguir a cor grená se decido trabalhar com um lápis grafite. É muito improvável manter meu terno branco limpo em um chiqueiro de porcos. Como criar uma impressão de suavidade se o que manipulo é grosseiro?
       Após a escolha dos ingredientes faz-se, o alimento. A minha experiência convenceu-me, que se conhecermos o "sabor das substâncias" que escolhemos para a feitura do trabalho artístico, fica mais simples a sua manipulação. Denominamos esse processo de pesquisa. Essa fase, essencialmente coletiva no trabalho teatral, deve ser feita em processo de laboratório (com todo cuidado e rigor que o termo sugere), na contemporaneidade essa prática não é só salutar é indispensável.
      Existe uma máxima que diz: “Dois tipos de espetáculos são imprestáveis: aqueles onde entendemos tudo e aqueles onde não entendemos nada”. A busca de equilíbrio entre os diversos aspectos que compõe a encenação devem definir aquilo que desejamos (re)passar. Duas coisas o espectador abomina: Uma é ser considerado um tolo e a outra é sentir-se tolo. Simultaneamente o espetáculo (isso vale para qualquer gênero artístico) deve oferecer a sua assistência o "enigma do mar revolto" e referenciais seguros no horizonte da obra.  Se o espectador é meu farol o meu trabalho cênico é navio para ele.
       Nessa maneira de pensar arte, ousadia e humildade, andam juntas em relação amorosa. Os frutos dessa ação dialógica, entre artistas e público, será o fortalecimento de um elã metafísico. Pois se existem verdades na arte (e existem por mais que tentem negar os filhos do relativismo) revelam-se, translucidamente na presença dos que a apreciam. Quem ignora esse princípio, por irredutibilidade conceitual ou por simples ignorância, age às cegas. A platéia é um fato concreto mesmo tendo seu gosto adulterado por séculos de dominação de uma arte inautêntica, sempre reagiu à autenticidade. Espectadores têm fome como filhos órfãos que esperam pacientemente adoção mesmo temporária, licenciosa ou fluida. Afinal, a platéia nunca foi escrava de ninguém quem pensa ao contrário está fadado ao fracasso. Cabe aos artistas, no tempo da vivência, alimentá-los, educá-los procurando nunca ser tiranizados por seu público (se isso acontece é o fim do artista e da arte) e, com muito cuidado, amá-los.  

Adriano Abreu
Diretor do Piauhy Estúdio das Artes

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Impressões do Professor de Teatro Edinho do Monte sobre o Espetáculo "FOGO"



Trabalho de bom gosto. Elenco afinado e presença forte da direção, fazem deste espetáculo, com certeza, uma busca comprometida com uma estética de qualidade visual acima da média dos trabalhos teatrais produzidos nesta capital. Com soluções cênicas objetivas, advindas de uma plasticidade que se revela à medida que a peça se desenvolve no gestual dos atores em cena e diante do público, reflexo da direção segura, Piauhy Estúdio das Artes "Fogo" rema contra a maré do mau gosto e estereótipos comprometidos com o grotesco que reinam à deriva em nossos palcos. Atores bem treinados no ofício cênico, com um texto bem colocado, tanto naquilo que se ouve quanto naquilo se vê em cena, sempre brindam o espectador com o instigante prazer de se assistir a um bom espetáculo.

Edinho Do Monte
17 de outubro de 2013 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Atiro Minha Seta no Mar Tempestuoso do Medo e Desesperança