Revolucione-Se
“As pessoas mudam e revelam-se na ação”.
do amor e da dor nos tempos eternos.”
“Exercício Sobre Medéia”
Meu filho de 14 anos falava entre o
irônico e o desapontado que eu tinha acabado com seus sonhos quando disse que
nenhuma música era revolucionária a ponto de mudar o mundo. Não falei toda
verdade, aliás, essa conversa entre eu e ele, motivou este artigo.
Nenhuma arte é capaz de modificar ou
criar as circunstâncias históricas que possibilitam a transformação radical da
sociedade, ou seja, promover revoluções. A utopia Artaudiana de um teatro que
promovesse situações francamente revolucionarias (teatro como a peste)
mostrou-se sonho do paraíso perdido. O correto é que as manifestações
artísticas e seus executores, os artistas, são vítimas e, paralelamente,
algozes do seu tempo. Contudo, aparentemente (só aparentemente), os
construtores culturais, desenvolvem tal multiplicidade de influências que,
paradoxalmente, rompem fronteiras do tempo-espaço. Na minha aldeia, Teresina,
Chapada dos Raios, existem coletivos e pessoas realizadores de proposições
teatrais referentes aos séculos XIX, XX e XXI, concomitantemente. A perspectiva
em questão pode perfeitamente estender-se as outras artes. Outro dia, apreciava
um show de música pop dos anos 80, realizado por um artista que iniciou sua
produção cultural nos anos 2000, com um público que acreditava, timidamente,
que o show vivenciado era novo, mas não era. O artista mostrava canções
possivelmente relevantes há trinta anos atrás. Hoje o que dizer? Certas coisas não são possíveis maquiar,
mesmo nas redes a-sociais. Portanto, podem conviver artes de diferentes
momentos históricos numa mesma época, alguns, afirmam que essa peculiaridade é
privilégio da propalada contemporaneidade, eu discordo, creio apenas em cosmo
visões (ideologicamente construídas), percepções e sensos estéticos diversos
habitando o mesmo momento histórico.
Todavia, a reflexão é outra, nossa
motivação diz respeito à propriedade revolucionária da arte. Revoluções,
geralmente, são realizadas por jovens “guiados” por adultos impregnados de
objetivos nem sempre altruístas. Desconfio de todas as ações, mesmo na produção
cultural, ditas rebeldes ou revolucionárias. Conheço um grupo, habitante da
mesma província minha, que realiza trabalhos esgotados na Europa do século
vinte, vendido como produção cultural absolutamente radical, questionadora com
potencial de mudança, a coisa tem pegado como chiclete no cabelo, alguns já
diluem a diluída proposição desse coletivo, quanta fragilidade cultural.
Acredite quem quiser, não sou mais tão ingênuo, para mim, tal manifestação
artística não passa de escolho com conteúdo conservador, alienante e dominador,
por sua vez, não revolucionário.
O problema do meu filho, no entanto, é
real, portanto merece elucidação. Se existe revolução (mudança radical) ela
sempre ocorre de dentro para fora, se houver predisposição do sujeito para
mudança, através de um processo lento e progressivo, que envolve incontáveis
possibilidades e reflexões embasadas nos valores individuais relacionando-se no
tempo-espaço sócio-cultural. Uma canção, um espetáculo teatral, uma obra de
audiovisual pode servir de “estímulo” para essa reflexão, porém, sozinha, por
mais bem elaborada que seja a obra de arte, dificilmente provocará
significativas transformações. O que ocorre é que por um profundo
comprometimento individual alguns artistas conseguem, através de poderoso poder
de divulgação e empatia (alguns dizem sucesso), estimular, e muito, determinado
período e conjunto de indivíduos, de
forma estereotipada e superficial seus seguidores, daí dizer que mudaram
pessoas, ou ainda, revolucionaram a sociedade seria sofisma. Quantos indivíduos
que se vestem como o Raul Seixas gostariam de viver na “Sociedade Alternativa”?
Será que entenderam os objetivos do artista? Quantos diretores ditos
“Grotowskianos”, “Brechinianos”, “Stanislavskianos”, leram e, compreenderam
seus escritos espetáculos e propostas? Creio que se tivessem compreendido não
se declarariam discípulos desses mestres, até porque suas buscas pessoais são
irrepetíveis, devido às condições peculiares de suas descobertas.
O Poeta Paulo Machado afirma que a
poesia “é torpedo suicida”. Acredito
nesse verso, faço arte por que creio na mudança, mas aprendi: “As pessoas mudam e revelam-se na ação do
amor e da dor nos tempos eternos”.
Adriano Abreu
Diretor do Piauhy Estúdio das Artes
(Dedicado aos atores do Ciclo de Leituras Dramáticas 2013)