Lamúrias de um rio que tem a certeza de não mais chegar ao Oceano

Esta é uma obra, que traduz a agonia de um rio chamado Parnaíba. Um rio que surgiu no meio do sertão do Brasil e foi aos poucos se embrenhando pelas matas, rasteiro como uma serpente, abrindo caminhos para chegar ao oceano, orgulhoso e com o sentimento de um desbravador que cumpre a sua missão, um rio perene pai de outros rios e que tem como fardo suportar o desrespeito e a fúria insana da população ribeirinha da qual deposita como recompensa todos seus dejetos produzidos.
“Lamúrias de um rio que tem a certeza de não mais chegar ao oceano”, retrata essa trajetória, como um grito de alerta. Uma instalação que nos faz refletir sobre a condição social que afligem nossas águas, nos fazendo questionamentos e nos dando a certeza de nossa própria covardia da nossa capacidade de não querer entender o que está acontecendo.
Para concretizar esse pensamento, e transformá-lo em obra de arte, me apropriei do elemento rio, tendo como foco os esgotos que são despejados em suas costas como se fossem nosso próprio vômito. Esta instalação mantém uma poética visual sem grande  impactos, mas ao mesmo tempo provocante, pois utilizo matérias leves como a cerâmica em cilindro e a parafina incolor, uma alusão a lágrimas, esgotos que choram a morte lenta dos rios. Os cilindros de cerâmica ficam dispostos na parede como se fossem esgotos e a parafina derretida representa líquidos venenosos que descem como uma cachoeira congelada em forma de lágrimas.
Lamúrias, são prantos e a  tradução dos sentimentos de um rio, o desdobramento de outras obras que fazem parte da minha trajetória como artista engajado em defender as questões ligadas ao meio-ambiente.